Tragédia expõe a má gestão da FAS e a precariedade do atendimento à população de rua em Curitiba

A morte de um homem em situação de rua em frente ao Mercado Municipal revela a fragilidade da gestão da FAS e a ineficiência das políticas públicas da Prefeitura de Curitiba


A morte de um homem em situação de rua, encontrado na tarde de sábado (6) em frente ao Mercado Municipal de Curitiba, ponto turístico de grande movimentação, escancara a fragilidade da assistência social na capital paranaense. O homem, ainda não identificado, seria um ex-servidor público que atuou como policial militar nas décadas de 1980 ou 1990. Ele morreu a poucos metros do Centro de Atendimento Integrado à População em Situação de Rua, conhecido como FAS SOS, aberto em janeiro deste ano e inaugurado oficialmente pela administração municipal em abril.

A tragédia, ocorrida em um dia de temperaturas extremamente baixas na cidade, ao que tudo indica, poderia ter sido evitada ou pelo menos ter recebido um atendimento imediato da gestão municipal. Segundo informações, o homem passou a noite no local, e seu corpo, já sem vida, foi recolhido na tarde de sábado. A situação evidencia a fragilidade não só do atendimento e acolhimento às pessoas em situação de rua, mas também a urgência da implementação das políticas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em Curitiba.

Para Juliana Mildemberg, coordenadora do SISMUC, essa morte se soma aos diversos problemas enfrentados na gestão da FAS, como as recentes denúncias de casos de violência contra crianças envolvendo a Casa do Piá 1, espaço administrado pela FAS. “Além dos problemas enfrentados quase diariamente pela população em situação de rua e pelos servidores nos locais de trabalho, é importante salientar que Curitiba não possui a regulamentação do SUAS municipal, conforme previsto pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Se houvesse essa efetivação e uma secretaria de assistência social em Curitiba, com toda certeza, não haveria tantos problemas. Precisamos avançar nessas questões, inclusive com a realização de concurso público.”

Ainda segundo a coordenadora, “essa morte trágica é um triste lembrete da necessidade urgente de políticas públicas eficazes e da revisão das práticas de gestão da FAS. É imperativo que a Prefeitura de Curitiba tome medidas imediatas para garantir a dignidade e os direitos das pessoas em situação de rua, prevenindo que mais tragédias como esta se repitam.”

Cenário
Segundo relatório da Secretaria de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único (Sagicad), 284.910 pessoas vivem em situação de rua no Brasil. No Paraná, são 14.371 indivíduos nessa condição, dos quais 4.022 estão em Curitiba. Em setembro do ano passado, eram 3.487 pessoas em situação de rua na capital, representando um aumento de 15,3% em menos de um ano.

De acordo com dados divulgados pelo jornal Bem Paraná, entre janeiro e junho deste ano, a Central 156 registrou 4.208 solicitações de abordagem social envolvendo pessoas dormindo ou caídas nas ruas de Curitiba. Esse número equivale a 23 ocorrências diárias, ou uma ocorrência a cada 62 minutos, demonstrando a grave situação das pessoas em situação de rua na cidade.

Foto: João Frigério