O etarismo, preconceito e discriminação baseados na idade, é um problema persistente, que afeta especialmente as mulheres após os 50 anos. Esse tipo de discriminação não apenas mina a autoestima das mulheres nessa faixa etária, mas também impacta suas vidas profissionais e pessoais de maneiras profundas.
Muitas mulheres relatam que, após atingirem os 50 anos, são frequentemente alvo de comentários desrespeitosos e preconceituosos, o que as leva a se sentirem desvalorizadas e invisíveis na sociedade. Esse tipo de tratamento pode levá-las ao isolamento social, uma vez que se afastam de situações que possam expô-las a tais comentários negativos.
Além disso, o impacto do etarismo nas relações afetivas não pode ser subestimado. Muitas mulheres relatam que, mesmo estando em relacionamentos estáveis, os homens, até sendo mais velhos, muitas vezes optam por se envolver com mulheres mais jovens. Isso pode gerar sentimentos de rejeição e inadequação, afetando negativamente sua autoestima e bem-estar emocional.
Heliana Hemetério, conselheira titular do Conselho Nacional de Saúde (CNS), membro da Rede de Mulheres Negras e do Coletivo de Lésbicas Negras, hoje aos 73 anos, se reconhece como alguém privilegiada, pois sabe dos seus direitos e não permite que ninguém lhe tire. Porém, enxerga o preconceito que mulheres idosas enfrentam em diferentes áreas da vida, inclusive nos relacionamentos amorosos. “[Idosas] saem desse espaço da beleza, do tesão. Durante uma apresentação do Conselho de Mulheres, foi falado apenas sobre os direitos sexuais e reprodutivos”, mas ninguém citou a vida sexual de mulheres mais velhas, comenta Heliana. “É preciso falar da sexualidade dos idosos, que aumentou a taxa de IST’s nessa faixa etária, por exemplo”, afirma.
No âmbito profissional, o etarismo pode ser ainda mais prejudicial, pois muitas mulheres nessa faixa etária enfrentam dificuldades para serem contratadas ou promovidas, devido à ideia equivocada de que são menos produtivas ou menos capazes do que seus colegas mais jovens. Isso não apenas afeta suas carreiras, mas também suas condições financeiras e emocionais. Além disso, presume-se que idosas são menos capazes, menos interessantes ou menos valiosas, logo, descartavéis para o mercado profissional. Esse é um dos problemas do capitalismo, que torna insignificantes as pessoas que não são consideradas “úteis” ou “produtivas”. É preciso combater a ideia de que velhice é sinônimo de incapacidade.
Hemetério aponta ainda que nos espaços de poder é normal que os cargos políticos sejam ocupados por homens mais velhos, mas são poucas as mulheres idosas nas diferentes instâncias do governo. Em 2018, por exemplo, as mulheres candidatas à Câmara de Deputados com 60 anos ou mais eram apenas 13,9% do total.
Mas, como identificar o etarismo?
Isso pode ser complexo, pois muitas vezes ele se manifesta de forma sutil e enraizada em estereótipos e preconceitos culturais. Uma maneira de identificá-lo é observar como as pessoas são tratadas ou retratadas com base em sua idade. Comentários depreciativos ou piadas sobre a capacidade física, mental ou emocional de alguém devido à sua idade são sinais claros de etarismo. É importante estar atento a esses sinais e trabalhar para promover uma cultura mais inclusiva e respeitosa em relação à idade.
Dados do IBGE revelam que o número de idosos no Brasil cresceu 57,4% entre 2010 e 2022, representando uma significativa parcela da população. A cada 100 brasileiros, 11 já têm mais de 65 anos, e metade da população já ultrapassou os 35 anos. Esses números demonstram a importância de combater o etarismo e promover uma cultura mais inclusiva e respeitosa em relação à idade.
As mulheres em geral têm uma expectativa de vida maior do que os homens, no mundo e no Brasil. Em Curitiba não é diferente. No ano de 2030 estima-se que o total de homens acima de 60 anos será 174.122, enquanto as mulheres contabilizarão 261.524, ou seja, 60% do total de pessoas idosas no município.
É fundamental que a sociedade reconheça o impacto prejudicial do etarismo e trabalhe para eliminar esse tipo de discriminação, garantindo que todas as pessoas, independentemente da idade, sejam tratadas com respeito e dignidade. A luta contra o etarismo é uma questão de direitos humanos e deve ser encarada como tal, visando a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva para todas as idades.