No Dia Internacional da Mulher, servidoras pautam o direito ao trabalho digno e a cidade

Dezenas de mulheres saíram às ruas em todo o Brasil na última sexta-feira (8/3), data que marca o Dia Internacional da Mulher. Na capital paranaense não foi diferente, e o SISMUC esteve presente no ato organizado pela Frente Feminista de Curitiba, região metropolitana e litoral — organização que aglutina diversas entidades, sindicatos, movimentos sociais, entre outras organizações.  A concentração que iniciou na Praça Santos Andrade, no centro da cidade, com apresentações culturais, inclusive das indígenas, seguiu até a estátua de Enedina Alves Marques, na Boca Maldita, onde foi encerrada com um ato cultural e político das trabalhadoras negras. 

Com o mote “Por uma cidade que nos mantenha vivas e um território que nos pertença”, o evento buscou dar voz à luta de todas as mulheres negras, indígenas, PCDs, lésbicas, travestis, transexuais, periférica, entre outras, em torno de temas importantes, como o fim do feminicídio, lesbocídio e transfeminicídio e pelo direito à vida, moradia, saúde, entre outros. E, para entender o que elas acham que falta em Curitiba para que, quanto mulher, se sintam pertencentes a esta cidade, ouvimos diversos relatos e apontamentos que precisam ser assegurados pelo município para garantir, entre outras questões, a inclusão, saúde e o acesso à informação. Confira abaixo o que elas relataram:

 

Adriana Claudia Kalckmann  Professora de educação infantil 

É essa a visão da prefeitura de Curitiba hoje sobre nós mulheres e servidoras, a gente é um número que tem que dar conta do serviço. Por isso, a gente precisa, nessas próximas eleições, eleger alguém que realmente tenha afinidade, tenha uma linha de pensamento que pense realmente na comunidade mais humilde e mais pobre, na população negra e na mulher.

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Camila Matos, coordenadora executiva da Rede de Mulheres Negras do Paraná

Eu acho que o mais importante de tudo ao pensar a política pública em amplo sentido é sobretudo que todas as mulheres, de todas as raças, gêneros, em qualquer classe, ela seja ouvida, independente sobretudo do seu território. A cidade de Curitiba não foi feita para mulheres negras!

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Ana Carolina – Torcida Feminina do Atlético

Então, o Athletico contratou um novo técnico que esteve envolvido, uns anos atrás, em caso de abusos. Enfim, isso mostra que eles podem fazer o que eles quiserem com as mulheres e sair impune e serem contratados num time gigantesco, num emprego que tem muito destaque e isso aí tá ocorrendo há anos e anos e nada foi feito, nada aconteceu, ele tá aí sendo idolatrado e isso pode acontecer em qualquer âmbito, qualquer lugar de qualquer empresa, eles acham que eles têm muita impunidade.

Então assim, isso mostra a impunidade e é muito perigoso pra nós mulheres, a gente não se sente segura em lugar nenhum.

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Vanderli – Assistente social

Eu sou servidora, aposentada, com muito orgulho. Eu fui da saúde, trabalhei um pouco na assistência, mas minha carreira foi na saúde, no SUS, na saúde mental.

Com o governo de Greca não existe política pública inclusiva. Na minha carreira no serviço público, eu trabalhei 33 anos no SUS. Estou aposentada, mas não tem. Nós queremos políticas públicas inclusivas, especialmente para as minorias, para as pessoas mais desfavorecidas. Uma cidade maquiada, que é feita para o centro, não tem política inclusiva.

Então, qual é a cidade que nós queremos? Certamente essa cidade que eu amo, essa cidade que eu escolhi para viver, essa cidade que me acolheu, mas ainda falta muito. Não tem o que a gente pensar, não se pensa em um programa de governo, se jogar numa campanha, uma candidatura de esquerda, ou pelo menos democrática, de centro-esquerda, que tem que ser construída para prefeito. E, construir candidaturas populares, especialmente da periferia, de mulheres.

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Maria Teresa Gonçalves, sou assistente social

Bom, eu acho que Curitiba pode pensar numa cidade que seja mais inclusiva, incluir também as questões de gênero no planejamento urbano, incluir as questões da diversidade também, das necessidades das mulheres e uma escuta mais próxima também com um grupo de mulheres pra saber como elas sentem a cidade, tornar essa cidade mais inclusiva, mais segura, pensar essa cidade conscientemente nessas relações de gênero. 

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Dara Rosa, assistente social e vice-presidenta do Conselho Municipal de Assistência Social

Sou servidora pública de Curitiba e venho aqui dizer que Curitiba só vai realmente ser uma cidade justa e igualitária quando de fato todas as mulheres, lésbicas, transexuais, crianças, adolescentes, idosas estiverem incluídas nos serviços públicos, em todas as áreas, como na cultura, saúde, educação, assistência social, esporte e lazer.

Curitiba hoje não oferece esses serviços amplamente para toda a comunidade, principalmente para as mulheres periféricas. Esses serviços, cultura, esporte, lazer, não chegam na comunidade, não chegam para as mulheres jovens, para as crianças, meninas, nem para as mulheres adultas e idosas.

Os serviços que tem na área de cultura, na área de esporte, são serviços privatizados que cobram e essas mulheres não têm condição de pagar. Os serviços que existem como saúde, educação, assistência social territorializados são serviços que estão sucateados, que não tem servidoras e servidores suficientes e que a prefeitura não faz concurso.

A maioria das pessoas que acessam esses serviços públicos são mulheres e são mulheres que acabam não conseguindo acessar esses serviços na sua plenitude por conta do desmonte das políticas públicas em Curitiba. Então, reforço, Curitiba não é uma cidade segura, não é uma cidade que acolhe, não é uma cidade que garante os plenos direitos das mulheres.

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Vera Lúcia Armstrong, assistente social aposentada. Atuava na Casa da Mulher Brasileira de Curitiba.

Eu acho que falta as mulheres conhecerem um pouco mais de legislação, tudo que é pertinente às mulheres e a nossa luta quanto mulheres. Porque a maioria não conhece. Quando trabalhei na Casa da Mulher Brasileira a gente percebia nitidamente que elas só procuravam como último recurso.

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Angela Damasceno –  Professora de educação infantil aposentada

Trabalhei por 10 anos no serviço público e fui aposentada por invalidez. O que falta para eu me sentir pertencente a Curitiba? Falta bastante coisa! Porque quando eu trabalhava eu me sentia pertencente a um grupo e quando me aposentaram por invalidez fiquei sem espaço na cidade, sem ocupação. Eu não sinto que Curitiba tenha território, pelo menos para mim que sou aposentada. Não tem grupo, não tem estrutura, não tem serviço social, não tem nada.

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Suellen, assistente administrativo e Boris, servidor que atua como inspetor escolar

Morando em Curitiba eu me sinto uma pessoa oprimida, porque eu trabalho há muitos anos e sempre tive chefes, então eu sempre me senti oprimida. Nunca faltaram com respeito, mas a gente sente essa opressão na forma de falar, de agir, do como se vestir…

A questão da segurança também pega bastante na questão da nossa filha, porque agora ela é uma jovem adulta, ela sai, ela quer ter a vida noturna dela, ela quer ter os amigos dela, e isso é uma coisa que deixa a gente de cabelo arrepiado, porque a gente sabe que ela está numa situação de vulnerabilidade quando está fora de casa, a gente sabe que infelizmente as mulheres não têm a sua integridade física garantida quando saem de casa, e isso é uma coisa extremamente preocupante, é uma coisa que perturba a gente. Precisamos que Curitiba garanta segurança.