A violência contra as mulheres não se restringe ao ambiente doméstico, também se estende aos locais de trabalho, atingindo trabalhadoras de diferentes segmentos profissionais, raças e idades, como o caso das servidoras públicas. O exemplo mais recente aconteceu dia 6 de março, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, quando três trabalhadoras públicas — uma enfermeira, uma técnica de enfermagem e uma agente comunitária de saúde — que atuam na Unidade Básica de Saúde (UBS) Aurélio Grott, foram agredidas. Uma delas chegou a ser violentada com um teclado e a outra teve um corte profundo no braço e precisou levar 11 pontos.
Esse exemplo das servidoras de Ponta Grossa não é isolado. Infelizmente, Curitiba também já teve muitos episódios de violência contra profissionais do serviço público em seus locais de trabalho, e muitos ainda seguem sendo registrados diariamente, como o assédio moral e sexual, ameaças e agressões verbais. Mas, de modo geral, qual a percepção das mulheres paranaenses sobre tudo isso?
A partir da escuta das mulheres de todo o Paraná, dados que integram a Pesquisa Nacional de Violência contra as Mulheres, apresentados em novembro de 2023, pelo DataSenado, do Senado Federal, traz informações sobre a percepção delas em relação a temas como machismo, respeito à mulher, grau de conhecimento sobre os instrumentos de proteção e a vivência das brasileiras de 16 anos ou mais em relação à violência doméstica. No Paraná, a pesquisa mostrou que ainda há um cenário muito complexo e grave. Confira abaixo:
Percepção das mulheres do Paraná:
– 54% consideram que as mulheres às vezes são tratadas com respeito no Brasil.
– 57% consideram o Brasil um país muito machista.
– 71% acreditam que a violência doméstica aumentou nos últimos 12 meses.
– 62% conhecem pouco sobre a Lei Maria da Penha.
– 51% acreditam que a Lei Maria da Penha protege apenas em parte as mulheres.
– 95% conhecem os serviços de assistência social, como CRAS e CREAS.
– 68% conhecem pouco sobre Medida Protetiva.
A experiência das mulheres do Paraná sobre violência doméstica:
– 70% conhecem alguma mulher que sofreu violência doméstica ou familiar.
– Violências mais recorrentes: física (90%), psicológica (85%) e moral (82%).
– 35% afirmam ter sofrido violência doméstica ou familiar provocada por um homem.
– Violências mais recorrentes sofridas: psicológica (86%), física (79%) e moral (75%).
– 27% buscaram assistência à saúde e 80% não convivem mais com o agressor.
– 40% vivenciaram a primeira agressão até os 19 anos.
– 13% vivenciaram alguma situação de violência nos últimos 12 meses.
Perfil da população feminina do Paraná:
– Composição étnica: 66% brancas ou amarelas, 34% pretas, pardas ou indígenas.
– Renda familiar: 49% vivem com até 2 salários mínimos, 31% entre 2 e 6 salários mínimos, 9% com mais de 6 salários mínimos.
– Educação: 44% possuem somente ensino fundamental, 35% ensino médio, 20% ensino superior.
“Esses dados do Paraná revelam a complexidade e a gravidade da violência contra as mulheres no Paraná, destacando a necessidade de políticas públicas eficazes para prevenção e proteção das vítimas, tanto no âmbito doméstico quanto no ambiente de trabalho. É fundamental que a sociedade e as autoridades estejam atentas a essa realidade e trabalhem juntas para garantir a segurança e a dignidade das mulheres em todos os espaços”, afirma Juliana Mildemberg, coordenadora do SISMUC.