Você já deve ter visto em algum lugar que Curitiba está entre as capitais com a melhor saúde pública do Brasil, né? Será que essa comparação faz sentido em um país de imensa dimensão territorial e regiões com suas peculiaridades? Curitiba realmente oferece um serviço em saúde pública de qualidade? Basta escutar os usuários da rede pública de saúde e os servidores públicos da área para saber que, na prática, a realidade não é esse conto de fadas.
Não tem plano de saúde e não pode pagar por uma consulta com um especialista? Prepare-se para ficar meses — ou até anos — em uma fila de espera para conseguir atendimento. Para se ter ideia, em especialidades como gastroenterologia e oftalmologia, estimasse que fila seja de aproximadamente 30 mil pessoas em Curitiba. Finalmente você foi atendido e precisa fazer um exame para descobrir a causa dos seus sintomas? Mais alguns meses de espera. Deu certo fazer o exame, você retornou ao médico e ele indicou a necessidade de cirurgia? Meses em fila de espera.
Atualmente, o SUS de Curitiba conta com 287 diferentes especialidades para exames e consultas. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, desse total, a oftalmologia geral é a que tem maior tempo de espera – de nove meses. Outras 21 especialidades têm tempo de espera igual ou inferior a três meses, como a ortopedia e a gastroenterologia.
Porém, a situação de Isabella, usuária da rede pública de saúde, vai de encontro com esses dados. Isa aguarda há mais de 4 anos na fila para realizar um tratamento de canal. “Eu tava grávida em 2018, quando o dentista da unidade São Miguel, no CIC, disse que eu precisava tratar o canal, mas teria que ser depois do parto. Eu voltei 3 meses após o parto e ele fez um curativo no dente e me encaminhou para a clínica onde eu faria o tratamento. Nunca recebi nenhuma ligação”.
Isabella permaneceu aguardando, até que em 2020 o dente começou a doer novamente e procurou a unidade de saúde. “Dessa vez, fui à unidade Monteiro Lobato [Tatuquara], e o dentista fez outro curativo, me encaminhando pro tratamento de canal e eu segui aguardando. Em 2021, quando fui de novo ao dentista, ele achou que meu dente havia quebrado e pediu um raio X. O próprio médico me orientou a fazer o exame no particular, pois no município demoraria muito”.
Mesmo tendo o direito de fazer o exame pelo SUS, ela preferiu pagar para agilizar o processo. O dente não havia quebrado, então o dentista fez mais um curativo e Isabella permaneceu na fila de espera para fazer o tratamento de canal. E assim ela está até agora, recebendo apenas os cuidados básicos, sem a atenção necessária para que ela não sinta mais dor. “Além daquela dor que sinto desde 2018, agora meu siso está nascendo. Mas vou tentar tirar pela minha universidade, nem vou dar entrada no SUS”, expõe.
A condição da Isabella é a mesma de centenas de moradores de Curitiba que ficam na mão quando precisam de atendimento em alguma especialidade na rede de saúde do município. O SISMUC solicitou a SMS o número atualizado de pessoas aguardando na fila para atendimento, porém, a resposta foi apenas de que “a fila de espera é dinâmica”.
Aí, entendemos porque só vemos notícias de que Curitiba possui uma das melhores saúdes públicas do país. A Prefeitura não divulga dados que podem comprometer esse status.