Esta semana, o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Joinville e região (Sinsej) denunciou ao Ministério Público um caso de trabalho precarizado e análogo à escravidão a que são submetidos os trabalhadores terceirizados de uma obra da Prefeitura de Joinville (Santa Catarina).
O Sinsej esteve no local e constatou que a situação dos funcionários contratados pela empresa que realiza a obra do Centro de Bem-Estar Animal (CBEA), no bairro Vila Nova, é chocante e estarrecedora. Além de não receberem equipamentos de proteção, como capacetes, os trabalhadores passam por situações humilhantes — são transportados no baú de caminhões todos os dias, tanto na ida quanto na volta para casa.
Na hora do almoço, não há um local adequado para que eles façam suas refeições. As quentinhas são colocadas no chão de um espaço onde irá funcionar um canil e os trabalhadores se espalham procurando latas e locais no chão para sentar e se alimentar. Outros, se abrigaram embaixo de um telhado improvisado ao lado da caçamba de lixo para poderem almoçar na sombra.
Mesmo com a falta de humanidade e respeito com os prestadores de serviço, a presidente do Sinsej, Jane Becker, contou ao jornal local Folha Metropolitana, que descobriu existir um desconto de R$ 800 no salário deles, valor usado para alimentação e transporte.
Ameaça à Jane Becker e demissão do jornalista Leandro Schmitz
Na manhã de hoje (02/03), a presidente do Sindicato foi ameaçada de morte, dentro do seu carro, em Joinville. Quando parou em um semáforo, um motoqueiro encostou ao seu lado e perguntou: “você quer morrer?”. Inicialmente Jane achou que poderia ser algo relacionado ao trânsito, mas na sequência ele completou: “para de se meter onde não deve”.
Ontem, o jornalista Leandro Schmitz, foi demitido do Folha Metropolitana, veículo em que trabalhava, após publicação da matéria que expôs a denúncia de irregularidades na obra do CBEA.
O SISMUC repudia qualquer tipo de silenciamento à imprensa em seu exercício de divulgação dos fatos de interesse público. Também manifestamos solidariedade à Jane Becker, hoje às 16h o Sinsej realizará coletiva de imprensa para detalhar a situação.
Terceirização e precariedade nas condições de trabalho
Somente esta semana, veio à tona dois casos condições de trabalho análogas à escravidão no sul do Brasil — além desta em Joinville, 207 trabalhadoras foram resgatados de de um alojamento na cidade de Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul, onde trabalhavam em vinícolas.
O que as duas situações têm em comum é que, em ambas, as empresas acusadas pelas péssimas condições de trabalho são de contratos terceirizados.
Não é de hoje que o SISMUC aponta que as terceirizações precarizam as condições de
trabalho, nossa luta contra o avanço da privatização é histórica. “Nós não temos controle sobre a gestão de trabalho das empresas contratadas, apenas ao cumprimento de contratos”, essa foi a resposta da Secretaria de Meio Ambiente de Joinville sobre o ocorrido. Sabemos que este comportamento é comum ao terceirizar o serviço, se exaurir da responsabilidade pelos trabalhadores e trabalhadoras.