Após um ano de muitas lutas, aposentados visitam assentamento do MST na Lapa

Texto por Niuceia de Fátima Oliveira (membro do Conselho Fiscal do Sindicato e servidora aposentada) e Riquieli Capitani (Jornalista do SISMUC)

Nos organizamos para devolver o SISMUC para uma gestão comprometida com a defesa dos nossos direitos enquanto profissionais do serviço público desta cidade. Um ano de muitos encontros na sede antiga da Nunes Machado e agora na nova e sempre sede própria do SISMUC. Estivemos em manifestações na Prefeitura pela revogação dos perversos 14% da nossa previdência, e em comissão fomos à Câmara Municipal para conversas que se esvaziaram pela falta de compromisso da maioria dos vereadores que enrolam, enganam e fogem do assunto com a maior cara de pau.

Escrevemos uma história importante para nossa trajetória e para a história do SISMUC. Agora, precisamos olhar para o que podemos aprender com as conquistas e também com as dificuldades para balizar o caminho e planejar o futuro. 2023 já está quase aí, então vamos conversar sobre nossas pautas.

Em nosso passeio de confraternização de aposentados, visitamos o Assentamento Contestado, onde vivem as famílias organizadas pelo MST. Parabéns ao povo que há 23 anos fazem deste espaço um lugar digno de sustento próprio e de ajuda para alimentar e tirar a fome de muitos brasileiros e brasileiras.

No caminhar pelo Assentamento do Contestado, podemos observar as delícias da natureza e tudo rodeado da história de um povo que ama a terra, ama viver no campo. Sua agrofloresta, seu amor pela natureza e pelo direito de construir um Brasil mais justo, com oportunidades. Também sentimos a dedicação, o trabalho e a formação das famílias que desenvolvem a agroecologia com o cultivo familiar, sem tóxicos.

Quantas coisas boas vivemos, em especial conhecer novas pessoas e suas histórias que marcaram as trajetórias de vida. Os depoimentos das nossas jornalistas do SISMUC e dos representantes do Assentamento acredito que nos mobilizou. No almoço conheci outras três lindas mulheres e nossa conversa foi sobre a trajetória de vida até a aposentadoria. Trajetória desafiadora que frente a tantas situações da vida e do trabalho nos fazem resistência. Agradeço super essas mulheres maravilhosas que tem muito a dizer, a expressar, a entregar para o mundo como chegamos até aqui.

Saímos do Contestado motivados a, desde já, propor um coletivo temático para começar 2023 onde possamos pensar numa metodologia que nos proporcione compartilhar quem somos hoje e porque estamos aqui. Também traçar no 13º Congresso as linhas básicas do que queremos para os próximos 3 anos. Ter um projeto é também ter nossos sonhos sendo alimentados em uma direção que também podemos ir avaliando ao caminhar.

Confira mais fotos do passeio aqui, aqui e aqui

Assentamento Contestado: área de MST é exemplo de cuidado com a vida

Aproximadamente 25 toneladas de alimentos orgânicos são entregues semanalmente para cerca de 120 escolas de Curitiba; unidades de saúde, escolas municipais e estaduais, universidade federal, cooperativa e associação… O Assentamento Contestado, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado no município da Lapa, região metropolitana de Curitiba, é exemplo ao demonstrar que a luta organizada dos trabalhadores pode garantir qualidade de vida e acesso aos direitos previstos na Constituição Federal.

Ocupado em fevereiro de 1999, o Assentamento tem atualmente cerca de 700 famílias vivendo e lutando coletivamente. Mas, antes disso, a área pertencia originalmente ao Barão dos Campos Gerais. Na época, ele escravizava a mão-de-obra de negros e negras, tanto que, ainda hoje, o local carrega as marcas deste tempo: um porão onde estes homens e mulheres passavam seus dias foi mantido para que a história amarga do nosso país não seja esquecida. Após décadas, a Fazenda Santa Amélia — conhecida assim antes de ser dos assentados — pertenceu a uma empresa de cerâmica, quando foi comprada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e desapropriada para fins de reforma agrária.

Ontem (10), os aposentados e aposentadas do SISMUC puderam conhecer um pouco desta história de luta pela vida. Muitas perguntas foram respondidas, como, por exemplo, a crença que algumas pessoas têm de que o MST rouba terra e que não produz comida.

Os assentados e integrantes da direção da cooperativa do assentamento, Antonio Capitani e Carlos Finkler explicaram que, muitas pessoas não conhecem e criticam o MST e a importância da reforma agrária, mas que a realidade é bem diferente. “A imprensa construiu a ideia de que as pessoas vão roubar terra, mas não é assim que funciona. O MST ocupa a terra improdutiva, aquela área que não cumpre sua função de produzir, depois o INCRA compra do fazendeiro. Ninguém perde nada, ao contrário, é pela realização da reforma agrária que muitos que moram nas cidades conseguem comer”.

Saiba mais sobre o Assentamento aqui.