Prefeitura espera o colapso para decretar a bandeira vermelha

Nesta sexta (28), a Prefeitura de Curitiba decretou a
bandeira vermelha, com medidas mais restritivas de combate à covid-19. A medida
vem depois de muitos anúncios e avisos feitos pela secretária de saúde, Márcia
Huçulak, mas chega com atraso, quando o caos e o cenário de guerra nas unidades
de saúde já eram inevitáveis.

O colapso do sistema de saúde de Curitiba já era fato
consumado dias atrás. Com a aceleração das taxas de contágio e medidas pouco
efetivas de controle, o resultado já era conhecido: uma avalanche de casos nas
unidades de saúde, que levariam à lotação de UPAS e hospitais, terminando,
infelizmente, em crescimento do número de mortes.

Dez dias atrás, os sindicatos já denunciavam que a demora da
Prefeitura de Curitiba para agir e decretar a bandeira vermelha custaria vidas.
Mesmo com todos os dados apontando que o colapso era inevitável – ou seja, que
muitas pessoas viriam a morrer vítimas de Covid-19 sem ter acesso aos recursos
de saúde necessários para que tenha chances de sobreviver à infecção.

Mas, mesmo assim o desgoverno Greca manteve sua péssima
gestão na pandemia e demorou a agir. A falta de planejamento e organização da
gestão resulta em prejuízos tanto para a população que precisa do atendimento
de saúde, quanto para os trabalhadores que mantém o sistema municipal de saúde
em funcionamento, mesmo com a falta de estrutura, com a equipe reduzida e falta
de valorização. As unidades básicas de saúde voltam a funcionar como mini UPAs,
mas sem condições de estrutura, equipamentos, nem treinamento para isso.

Infelizmente, a situação ainda vai piorar nos próximos dias,
como mostra a experiência anterior. Curitiba esteve sob bandeira vermelha entre
13 de março e 5 de abril. Na
época, a confirmação diária de novos casos passava de 1.200 e a cidade tinha
12.365 casos ativos confirmados. Somente após três semanas da adoção de
medidas mais restritivas é que foi possível visualizar uma redução
significativa no número de
novos casos diários:no dia 6 de abril foram registrados 695 novos
casos, quase metade do que era registrado no início da bandeira vermelha.

Os dados recentes mostram que a restrição de circulação de
pessoas e de funcionamento de atividades não essenciais é eficiente para
desacelerar o vírus, mas os resultados não são imediatos. Se o decreto
restritivo tivesse sido publicado dez dias atrás, hoje estaríamos observando
uma estabilização dos casos e posterior redução. Quantas vidas mais vão custar
esse atraso?

Subnotificação mascara a realidade

Outro problema gravíssimo no controle da pandemia é a
subnotificação, reflexo da quantidade insuficiente de testes. Sem testar toda a
população, fica mais fácil mascarar a realidade e manter o funcionamento quase
normal das atividades da cidade.
Mas é nos leitos de hospitais e UPAs que a
realidade dá as caras e comprova que a situação é muito mais grave do que Greca
e Huçulak deixam transparecer.

Dados divulgados pelo farol Covid em 7 de maio mostravam que
a cada 10 pessoas infectadas na regional de saúde de Curitiba, oito não eram
diagnosticadas! Se a estimativa é de que apenas 20% dos casos são testados e
confirmados, então o número real de casos ativos com possibilidade de
transmissão é muito maior do que o divulgado pela Prefeitura. A estimativa de
casos ativos para a primeira semana de maio era de 19.015, muito acima dos
6.906 casos ativos divulgados no boletim diário da Prefeitura de Curitiba.

A subnotificação dificulta e muito o controle da doença,
afinal sem o rastreamento dos casos não há como garantir o isolamento adequado
dos infectados para reduzir a transmissão. De acordo com uma pesquisa da UFPR,
cada ônibus biarticulado, por exemplo, tem três positivos sem sintomas
transmitindo o vírus.

Ou seja, 1,5% das pessoas testadas, mesmo sem sintomas,
estava infectada com o coronavírus, cenário que preocupa devido ao potencial de
propagação da infecção por pessoas contaminadas, mas assintomáticas, que não
são isoladas. O dado divulgado pelo jornal Plural é resultado de uma testagem
em massa promovido pela universidade, que realizou cerca de 25 mil testes
RT-PCR para covid-19 em alunos, servidores e trabalhadores terceirizados da
UFPR, UTFPR e coabitantes.

Para diminuir a subnotificação a única saída seria a
realização de testagem em massa, medida que não foi adotada pela gestão de
Curitiba em nenhum momento.

Desgoverno genocida

As medidas fracassadas da gestão municipal de controle da
pandemia são agravadas
pela postura do governo federal diante da grave crise sanitária e
econômica que assola o país. Bolsonaro e seus apoiados seguem o seu discurso
negacionista, contra o isolamento social e a favor da cloroquina.
Diariamente,
o presidente genocida e sua turma produzem mais provas de que os números
assustadores de mortes no país não acontecem por acaso, faz parte de um projeto
de matança dos trabalhadores.

Não é à toa que o governo rejeitou a vacina, promove
aglomerações e oferece às famílias trabalhadoras um auxílio emergencial que não
é capaz de colocar comida na mesa das famílias trabalhadoras que passam por
dificuldades neste momento.

Como se não bastasse, nesta quinta-feira (27) Bolsonaro
entrou com uma ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra estados e
municípios que decretaram o lockdown e o toque de recolher. Essa já é a segunda
vez que o genocida recorre ao STF para tentar coibir ações que podem salvar
vidas.

Por isso, o clamor da classe trabalhadora é um só: Fora,
Bolsonaro!