10 falhas no protocolo de volta às aulas que expõem seu filho a riscos

A gestão Greca insiste na postura
irresponsável de retomar as atividades presenciais no dia 18 de fevereiro, mesmo antes
que os trabalhadores da educação tenham recebido a vacina.

Em entrevistas, propagandas na imprensa
e até mesmo no treinamento para os trabalhadores, a Prefeitura age como se o retorno das aulas
presenciais fosse 100% seguro e parece se esquecer dos riscos de contaminação e
de novos surtos de Covid-19.

Confira abaixo 10 falhas no protocolo
de volta às aulas que colocam em risco seu filho
e entenda por que os
trabalhadores da educação defendem que o retorno presencial aconteça o quanto
antes, mas com a garantia de vacina para todos!

1. SALAS DE AULA NÃO FORAM ADAPTADAS

O protocolo prevê distanciamento mínimo de 1,5 metros entre as carteiras dos estudantes. Entretanto, só o distanciamento e o uso de máscaras de pano simples não impedem a transmissão do vírus por aerossóis. Além disso, para as crianças de 3 a 5 anos a utilização de tatames que são divididos entre elas faz com que o distanciamento seja ainda mais complicado.

As janelas são estreitas na maioria das salas de aula da rede municipal de Curitiba e não permitem a ventilação adequada. O risco se agrava por causa do tempo de exposição, já que estudantes e professores ficam pelo menos quatro horas por dia em sala de aula.

2. MEDIR A TEMPERATURA IMPEDE, MAS NÃOIMPEDE A PROPAGAÇÃO DO VÍRUS

Se usado corretamente, o termômetro pode ajudar a monitorar quem tem febre, mas não impede a propagação do vírus. A febre só costuma aparecer entre dois ou cinco dias depois do contágio, além de ser apenas um dos sintomas da Covid-19 e nem sempre aparecer quando existe a infecção.

Além disso, os assintomáticos também podem representar uma parcela importante dos infecciosos, ou seja, que transmitem o vírus. Em estudo recente, a revista JAMA indicou que cerca de 75% dos assintomáticos podem infectar.

Ou seja, colocar milhares de crianças de volta às unidades escolares contando apenas com medição de temperatura abre brecha para que um estudante ou trabalhador contaminado transmita o vírus para um colega.

3. PROTOCOLO É OMISSO E NÃO GARANTE SEGURANÇA NO TRANSPORTE ESCOLAR


Além da exposição dentro das unidades escolares, o protocolo da Prefeitura de Curitiba deixa de levantar pontos importantes em relação ao transporte escolar.

A recomendação do Ministério Público do Trabalho (MPT) exige que os veículos funcionem com 50% da capacidade e indica a instalação de barreiras físicas entre os assentos para garantir o mínimo de segurança para os estudantes.

O protocolo definido pela Prefeitura não exige a instalação das barreiras físicas, nem garante a fiscalização para impedir que a lotação dos veículos ultrapasse 50%. Ao não incluir a fiscalização no protocolo, a Prefeitura lava as mãos e se omite ao invés de atuar para garantir a segurança.

Um outro problema é que para evitar aglomeração na saída das unidades escolares seria necessária a demarcação de espaços para a entrada e saída de alunos do transporte escolar, considerando o distanciamento social nas filas, por exemplo. Essa é mais uma falha, já que a administração não prevê essa necessidade.

4. TESTAGEM PERIÓDICA E MASSIVA SÃO ESSENCIAIS PARA CONTROLE DA PANDEMIA


Há quase um ano a pandemia chegava ao Brasil e, mesmo depois de todo esse tempo, o país é um dos que menos realiza a testagem como forma de prevenção da Covid-19 – apenas 105 testes a cada mil habitantes. Em contrapartida, outros países têm realizado testagens massivas que demonstram ser parte de um método eficaz para o controle da pandemia, levando em consideração a testagem, o rastreamento de contatos e o isolamento social. As três medidas devem considerar também os casos assintomáticos.

Em Curitiba, com o retorno presencial das aulas, falamos de milhares de pessoas retornando às ruas da cidade. E, é com o aumento da circulação de pessoas que se torna mais fácil a propagação do vírus. Por isso, se a Prefeitura realmente se responsabilizasse pela vida dos trabalhadores e dos estudantes, a primeira ação para um retorno seguro deveria ser a testagem massiva – que foi ignorada no protocolo de retorno presencial – de trabalhadores da educação e estudantes.

Afinal de contas, sem saber quantas pessoas podem estar infectadas, como garantir a segurança em sala de aula? E não é à toa que a Prefeitura de Curitiba ignora a necessidade da testagem, afinal de contas, testar a população custa dinheiro e a atual gestão quer economizar às custas da vida da população.

Além disso, essa postura não é novidade. Para que os servidores que estão na linha de frente fossem testados, os sindicatos tiveram que recorrer ao Ministério Público do Trabalho. Mesmo assim, a Prefeitura tem se esquivado da sua responsabilidade e não tem sido transparente com os dados sobre os testes realizados nos servidores.

5. CRIANÇAS NÃO SÃO IMUNES À COVID-19


Crianças e adolescentes costumam ser assintomáticas ou desenvolver sintomas leves de Covid-19. Entretanto, isso não significa que o retorno das aulas presenciais antes da vacina não traga risco aos estudantes, aos seus familiares e aos trabalhadores da educação.

O retorno das aulas presenciais nesse momento pode ser desastroso diante do surgimento de uma nova variante da Covid-19 ainda mais transmissível. Por apresentarem poucos sintomas, os jovens continuam circulando e podem transmitir o vírus por mais tempo, o que também coloca em risco os familiares com idade avançada ou com comorbidades que hoje estão em isolamento. As crianças interagem com seus familiares, que por sua vez terão contato com outras pessoas no trabalho ou no transporte público. Segundo estudo feito por pesquisadores da Universidade de Granada, na Espanha, uma turma com 25 alunos pode gerar mais de mil contatos cruzados em apenas dois dias, considerando apenas as interações familiares. Em três dias, o número de interações já pode ultrapassar 15 mil pessoas.

Além disso, as crianças não são imunes à Covid-19 e um percentual pequeno delas desenvolverá casos graves ou complicações decorrentes da doença. Isso significa que se a taxa de transmissão do vírus disparar, o número de crianças que precisam de internação em UTI pediátrica também vai aumentar.

No Brasil, foram registrados 570 casos e 39 mortes de crianças e adolescentes pela chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica desde o início da pandemia. A síndrome é rara e surge cerca de um mês depois de a criança ter contraído Covid-19, podendo atingir o trato gastrointestinal, pulmões, pele, o sistema nervoso central e, em casos mais graves, pode causar disfunção cardíaca e levar à morte. A maioria das crianças que tiveram a síndrome não tinham condições preexistentes e eram saudáveis.

Ainda se sabe muito pouco sobre os impactos da doença a longo prazo e por isso o retorno das aulas presenciais sem vacina e sem garantia de testagem periódica é um risco que não podemos correr nesse momento.

6. PREFEITURA NÃO CONTRATOU MAIS TRABALHADORES PARA GARANTIR REFORÇO NA LIMPEZA E HIGIENIZAÇÃO


A limpeza de espaços tem sido essencial no combate à Covid-19. Embora o toque com superfícies contaminadas não seja a forma de propagação principal do vírus, o contato ainda representa uma parcela das infecções.

Quando se trata de retorno presencial das aulas a limpeza se torna um assunto ainda mais sério. Na educação, as crianças estão acostumadas a pegar objetos, dividir brinquedos e materiais escolares. Além da dificuldade para barrar com que isso aconteça em sala aula, a higienização correta se torna essencial para que o risco de contágio seja reduzido.

Mas, como fazer uma limpeza adequada se o número de trabalhadores da limpeza é insuficiente? A conta da Prefeitura não bate. Os protocolos de limpeza aumentaram, mas o número de profissionais não. Ou seja, a administração quer sobrecarregar ainda mais os trabalhadores da limpeza.

Basta olhar para o protocolo para perceber que durante um dia de trabalho é impossível respeitar todas as determinações da Prefeitura. A não ampliação do quadro de trabalhadores da limpeza acarreta a sobrecarga de trabalho e o adoecimento dos trabalhadores, além de não garantir o cumprimento do protocolo organizado pela própria Prefeitura.


7. TODO PROTOCOLO DEPENDE DE AS CRIANÇAS NÃO COMPARTILHAREM OBJETOS. VOCÊ ACREDITA QUE ISSO É POSSÍVEL?


Além de todas as falhas, o protocolo de volta às aulas definido pela Prefeitura também depende que os alunos mantenham distanciamento durante toda a permanência na escola ou CMEI: não podem se abraçar, nem compartilhar brinquedos ou materiais didáticos.

Lembrar o tempo todo de não compartilhar nem mesmo uma caneta ou lápis não é uma tarefa fácil nem mesmo para os adultos, imagine para uma criança de 6 ou 7 anos?

Além de dar aula e lidar com problemas de indisciplina, a Prefeitura espera que os professores auxiliem os alunos a usar as máscaras corretamente, ajudem na higienização das salas e materiais e também arquem com a tarefa de fiscalizar e impedir qualquer contato físico entre as crianças e adolescentes, mas não contratou mais profissionais para que isso ocorra com responsabilidade.

Mesmo com a divisão em dois grupos, o protocolo da Prefeitura mantém turmas com cerca de 20 alunos. Nos CMEIs, as crianças dividem tatames, o que faz com que o distanciamento seja ainda mais complicado. Você acha que é realmente possível impedir que os estudantes interajam em salas assim?

A Prefeitura não vai fornecer sequer canecas ou garrafas de água para uso individual dos estudantes. No protocolo, essa é uma tarefa que cabe às famílias.

8. HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS E AMBIENTES FICA LIMITADA COM FALTA D’ÁGUA


Mesmo com as chuvas deste início de ano, Curitiba vive uma crise hídrica sem precedentes e a Sanepar não tem previsão de quando poderá interromper o rodízio e retomar o fornecimento normal.

No protocolo de volta às aulas, as direções das unidades de ensino ficam responsáveis por comunicar aos núcleos regionais sobre a falta d’água para que sejam tomadas as providências necessárias ao abastecimento. O problema poderia até ser contornado se a Prefeitura de fato garantisse abastecimento para lavagem das mãos e higienização constante dos ambientes, superfícies, brinquedos e materiais didáticos.

Ao longo de 2020, a gestão Greca deixou faltar água de forma recorrente até em unidades básicas de saúde. Dá para confiar que a Prefeitura vai garantir caminhão pipa para as mais de 400 unidades de ensino?


9. PREFEITURA NÃO GARANTE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO MÍNIMO AOS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO

As máscaras de pano ajudam a reduzir o contágio, mas não servem como equipamento de proteção individual. As recomendações do Ministério Público do Trabalho deixam claro que a Prefeitura deveria garantir, no mínimo, as viseiras de acrílico (faceshields) para reduzir a exposição dos professores e demais trabalhadores da educação.

A Prefeitura anunciou a compra de faceshields para o retorno das aulas presenciais, mas as unidades ainda não receberam uma por servidor. Se a vida desses profissionais fosse realmente importante para a gestão Greca, a Prefeitura distribuiria máscaras com sistema de filtragem que são consideradas Equipamentos de Proteção Individual (EPI), pois garantem um percentual maior de proteção para quem está usando proteção contra a contaminação por aerossóis e pequenas gotículas de saliva.

Além disso, a Prefeitura deveria garantir jalecos descartáveis para que os professores possam trocar entre uma turma e outra, sem correr o risco de levar um material contaminado para ser lavado em casa.


10. RODÍZIO NÃO ANULA RISCO DE SURTO DE COVID-19 EM ESCOLAS E CMEIS

O protocolo da Prefeitura prevê que cada turma seja dividida em dois grupos e que seja feito rodízio semanal entre os grupos para manter a ocupação das salas em 50%. A medida serviria para garantir que metade dos estudantes se mantivessem uma semana em aula e na outra em isolamento em caso de confirmação de um caso de Covid-19.

O problema é que o professor e os demais trabalhadores da escola não entram no rodízio e terão contato com todos os estudantes, podendo ser um vetor de transmissão entre os dois grupos.

Afinal de contas, esse contato é inevitável, especialmente as turmas de educação infantil e séries iniciais do fundamental. Até porque será exigido que os professores e demais trabalhadores auxiliem no uso correto e substituição a cada 4h ou sempre que estiverem molhadas.