Mais uma vez, Curitiba está na bandeira amarela. Porém, qual
tem sido a real diferença entre as bandeiras para a população? Seja com
bandeira amarela ou laranja, Curitiba continua funcionando como se não houvesse
quase 4 mil infectados
com vírus ativo na cidade.
Os servidores têm sentido na pele o descaso com as normas
sanitárias do combate à Covid-19, embora o discurso seja um, a realidade em que
vivem os trabalhadores que estão na linha de frente é bem diferente. É o caso
dos profissionais da odontologia que tiveram os atendimentos reduzidos no
início da pandemia para atender apenas URGÊNCIAS e agora, receberam ordens para
retornarem os atendimentos normais de rotina. Em algumas unidades, os
profissionais têm sido pressionados a ligar para a comunidade e retornar com os
atendimentos, mesmo para quem está no grupo de risco.
Os atendimentos haviam sido suspensos por um motivo claro:
os procedimentos realizados na odontologia geram uma grande quantidade de
aerossol e por isso são extremamente contagiosos. Mas, mesmo sabendo disso, a
Prefeitura ignorou completamente a recomendação da Organização Mundial da Saúde
(OMS) que orienta que em caso de transmissão comunitária os casos odontológicos
devem ser atendidos apenas para urgência e emergência, evitando ao máximo
procedimentos geradores de aerossóis, além de adiar tratamentos de rotina.
Ou seja, de que adianta as trocas de bandeira em Curitiba,
se na verdade, protocolos mínimos necessários para controlar o contágio não têm
sido realizados? Curitiba continua com uma transmissão comunitária em que a
cada 100 pessoas infectadas podem passar para outras 85 e mesmo assim, as
medidas de proteção e combate ao novo coronavírus têm sido negligenciadas.
A OMS e pesquisadores de todo o mundo têm estudado a
possibilidade de contágio através de aerossol, por enquanto esse
tipo de contágio tem sido visto, em sua grande maioria, em ambientes
hospitalares –
locais onde ocorrem procedimentos que liberam pequenas gotículas no ar, o
chamado aerossol. A odontologia é uma das áreas que mais liberam essas
gotículas durante os procedimentos. Por isso, a recomendação é simples, atendimento
da odontologia deve ser apenas de urgência e emergência!
Mas, as autoridades de saúde de Curitiba parecem ignorar
essa informação, afinal de contas, 2020 é ano eleitoral, e para o desprefeito
sua campanha é mais importante que a vida dos trabalhadores. Uma prova disso é
que mesmo com todos os estudos indicando a importância da utilização de
Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) adequados, os trabalhadores da odontologia não possuem máscaras
N95,
por exemplo, em alguns locais os profissionais chegaram a comprar as suas
próprias máscaras para se sentirem seguros.
Se os servidores não têm os equipamentos adequados e os
procedimentos são normalizados – atendendo inclusive os grupos de risco – a
conta é simples, o contágio nestes locais aumenta e a vida dos trabalhadores é
colocada em risco. É isso que a Secretaria Municipal de Saúde quer? Parece que
sim, já que tem obrigado os profissionais da odontologia a irem contra as
normas da OMS ao mesmo tempo que realiza discursos de retorno das aulas presenciais
– que aumenta a demanda nas Unidades de Saúde (US) e Unidades de Pronto
Atendimento (UPAs).
O SISMUC oficiou a Prefeitura e espera uma resposta
satisfatória das autoridades de saúde que em meio a crise sanitária que vivemos
precisam se responsabilizar pela saúde dos trabalhadores que atendem a
população.
Odonto de lá, pra cá
A irresponsabilidade da Prefeitura com a odontologia não vem de hoje. Em algumas unidades, os trabalhadores da odonto têm sido colocados para realizar o atendimento na recepção. O problema é que estes estão sem as máscaras N95 – consideradas ideias para esse tipo de trabalho – e muitas vezes nem faceshield possuem.
Afinal de contas, o atendimento inicial é aquele em que você pode ter contato com diversos tipos de doença, neste momento, principalmente a Covid-19. E não são só os trabalhadores da odonto que não tem os EPIs, mesmo enfermeiros e enfermeiras que tem feito esse trabalho na recepção, não tem esses equipamentos.
E, agora, trabalhadores da odontologia que estavam sendo expostos na recepção dos doentes, terão que atender a população de risco em consultas de rotina.