Lockdown é necessário para proteger a vida dos trabalhadores

No mesmo dia em que o Paraná atingiu o pico de mortes por Covid-19, com
57 óbitos registrados em 24 horas, o desgoverno Ratinho Junior suspendeu o
decreto que determinava medidas mais restritivas de combate ao novo
coronavírus. Sob pressão de empresários e de prefeitos descomprometidos com a
vida, mostrou ignorar o impacto social da pandemia justamente no momento em
que, segundo especialistas, a população do estado tinha que estar protegida sob
lockdown para barrar o máximo possível a circulação do vírus.

O lockdown diminui o contágio da doença e reduz a pressão no Sistema
Único de Saúde (SUS), do qual depende boa parte dos trabalhadores.
Países como
a Argentina e Nova Zelândia conseguiram relativo sucesso no controle do novo
coronavírus após adotarem o bloqueio controlado. Na China, onde foi registrado
o primeiro surto mundial de Covid-19, a quarentena total impediu uma tragédia
maior. Com uma população mais que seis vezes maior que a brasileira, o país
asiático teve cerca de 4,7 mil mortes;
no Brasil, os óbitos já passam de 72 mil.

E ao contrário daqueles que dizem que a economia não pode pagar o preço
da crise da pandemia, colocar a população sob uma quarentena rígida não se
trata de escolher entre dinheiro e saúde. Esse confronto é falso e só faz sofrer
ainda mais quem não tem condições de se proteger por conta própria, sobretudo
os mais pobres! As vidas são – e assim
têm de ser consideradas – mais importantes que a economia!

Porém, mais do que fechar o comércio e a circulação de pessoas, o
lockdown exige vontade política, algo que está em falta no Paraná. Em Curitiba
e região metropolitana, os desprefeitos preferem ceder às associações
comerciais ao invés de colocar em prática as orientações dos especialistas.
Como resultado, as contaminações e as mortes não param de crescer, e a rede
pública hospitalar está praticamente saturada.

Portas abertas para o novo caos

Dados do próprio desgoverno do Paraná mostram que a reabertura
inconsequente veio na mesma semana em que os hospitais da Grande Curitiba chegaram
a um novo caos. Nesta quarta-feira (15), seis hospitais da capital e região
metropolitana atingiram 100% de ocupação nas UTIs para o novo coronavírus (Cruz
Vermelha, Erasto Gaertner, São Vicente Centro, Evangélico, do Idoso e Municipal
de São José dos Pinhais). Outros dois, o Hospital de Clínicas e Hospital do
Rocio, em Campo Largo, chegaram a 99% dos leitos ocupados.

Desde meados de junho, Araucária e Curitiba passaram de 150 e 1.736
contaminações, respectivamente, para perto de 1 mil e 12 mil,
algo que só
reforça o desprezo dos desgovernos desses municípios com a batalha dos
servidores da linha de frente da pandemia e com a dificuldade de outros
trabalhadores que precisam se expor ao vírus por não terem outra opção.

Em Araucária e nos demais municípios metropolitanos, um novo decreto
definido nesta quarta permite até mesmo a volta das academias. Essas
aglomerações não devem tardar para ocorrer também na capital, já que o
desgoverno Greca pretende reavaliar as poucas restrições que ainda seguem válidas
na cidade, onde também nesta quarta foram 717 novos casos de Covid-19
confirmados – o maior registro diário desde o começo da pandemia na cidade.
Curitiba já tem 300 mortos pela doença.

Além de os municípios da Grande Curitiba não terem adotado testagem em
massa e um sistema eficaz de rastreamento de casos suspeitos, ambientes
aglomerados, como os ônibus, fazem parte do dia a dia de quem não pode ficar em
casa. Com o retorno do comércio, terminais e ônibus voltam a lotar, aumentando
consideravelmente as chances de contágio. Ao trabalhador, não resta outra
escolha a não ser carregar o peso da pandemia nas costas: se ficar em casa para
se proteger, perde o dinheiro que ganha para sobreviver.

Lockdown é necessário

Não se pode ignorar que a falta de uma determinação rígida faz as
pessoas perderem o direito à proteção própria e, consequentemente, de seus
familiares. Na grande maioria das vezes, as limitações das condições
habitacionais impedem que o trabalhador que precisa sair todos os dias consiga se
isolar dentro de casa, e na rua é impossível se proteger de maneira adequada o
tempo todo.

Por isso, o lockdown tem que ser discutido, sim. E com
responsabilidade!
É preciso que os políticos deixem de pensar apenas nas
próximas eleições e passem a brigar pela vida da população, mantendo todos em
casa e com direito a uma renda mínima essencial para evitar que o
empobrecimento e a desigualdade se agravem ainda mais durante a crise.

E mesmo que o desgoverno Bolsonaro – que finge
controlar a pandemia com a cadeira de ministro da Saúde vazia há dois meses –
tente negar, permitir que as pessoas circulem lado a lado com o novo
coronavírus é mais do que equivocado: é uma decisão egoísta e mortal! O momento
agora é de parar por respeito à vida de todos, de trabalhar por informações e
ações corretas e colocar um freio nesse cenário assustador.

A flexibilização da quarentena, como disse
recentemente o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, é um crime!
E por mais que os desgovernantes do Paraná tentem justificar, todo esforço será
em vão enquanto as vidas continuarem a ser ignoradas.

Ministério Público contesta flexibilização

O Ministério Público do Paraná (MPPR) se manifestou contrário à suspensão do decreto que determinava medidas de restrição mais rígidas no estado. Em nota, o órgão ressaltou que o desgoverno de Ratinho Junior não apresentou indicativos precisos que comprovassem a decisão.



Para o MPPR, faltam evidências que atestem os argumentos adotados pela gestão. Não ficaram claros, entre outros, os dados que mostram redução de internações e casos confirmados; sucesso nas estratégias adotadas pelo estado; alívio na pressão por serviços nas UPAs e na rede hospitalar e a normalização no reabastecimento de medicamentos, como anestésicos essenciais para tratar casos graves.



“A não reedição das normas do Decreto 4942, diante do quadro expansivo do contágio em nosso meio, revela que houve um retrocesso. Ainda que não representasse ele um standard ideal de controle e proteção, significou um passo à frente”, diz a nota, que classifica ainda a postura do governo como contraditória. “Indispensável transpor a aparente contradição entre o discurso, de um lado retórico ao estimular o fortalecimento do controle social ampliado, enquanto de outro, a propiciar a constante e evolutiva liberação, por decretos de vários entes federativos, de atividades não essenciais”.



O Ministério alerta ainda para o perigo que é a suspensão do decreto, pois pode levar as pessoas a pensarem que a crise do novo coronavírus está controlada, e finaliza: “Reafirma o Ministério Público do Paraná seu compromisso com a defesa prioritária, contextualizada na ordem jurídico-constitucional, da vida e da saúde da população, diante do inegável avanço do contágio”.