“Não sou uma mulher?
Aquele homem ali diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa carruagem, é preciso carregar elas quando atravessam um lamaçal e elas devem ocupar sempre os melhores lugares. Nunca ninguém me ajuda a subir numa carruagem, a passar por cima da lama ou me cede o melhor lugar! E não sou uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meu braço! Eu capinei, eu plantei juntei palha nos celeiros e homem nenhum conseguiu me superar! E não sou uma mulher? Eu consegui trabalhar e comer tanto quanto um homem – quando tinha o que comer – e também aguentei as chicotadas! E não sou mulher? Pari cinco filhos e a maioria deles foi vendida como escravos. Quando manifestei minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus, me ouviu! E não sou uma mulher?
E daí eles falam sobre aquela coisa que tem na cabeça, como é mesmo que chamam? (uma pessoa da platéia murmura: “intelecto”). É isto aí, meu bem. O que é que isto tem a ver com os direitos das mulheres ou os direitos dos negros? Se minha caneca não está cheia nem pela metade e se sua caneca está quase toda cheia, não seria mesquinho de sua parte não completar minha medida?
Então aquele homenzinho vestido de preto diz que as mulheres não podem ter tantos direitos quanto os homens porque Cristo não era mulher! Mas de onde é que vem seu Cristo? De onde foi que Cristo veio? De Deus e de uma mulher! O homem não teve nada a ver com Ele.
Se a primeira mulher que Deus criou foi suficientemente forte para, sozinha, virar o mundo de cabeça para baixo, então todas as mulheres, juntas, conseguirão mudar a situação e pôr novamente o mundo de cabeça para cima! E agora elas estão pedindo para fazer isto. É melhor que os homens não se metam. Obrigada por me ouvir e agora a velha Sojourner não tem muito mais coisas para dizer.”
Trecho de discurso proferido por Sojourner Truth na Convenção pelos Direitos das Mulheres em Akron, Ohio, em 1851.
Sojourner Truth foi o nome adotado por Isabella Baumfree, mulher negra feminista, abolicionista e defensora dos direitos das mulheres.
Com o discurso, Truth iniciava a crítica à invisibilidade da mulher negra até mesmo dentro do movimento feminista. Apesar de mais de quase 200 anos terem se passado desde o discurso de Truth, ainda é bastante dura a realidade enfrentada pelas mulheres negras. São elas as maiores vítimas do feminicídio e das agressões e também são as que recebem os menores salários.
Truth nasceu em 1797 no cativeiro em Swartekill, Nova York, e faleceu em 1883, em Battle Creek, Michigan.
Ao longo do mês de março, vamos contar a história de algumas mulheres que foram fundamentais para a construção da nossa história coletiva enquanto mulheres. Confira!
Com informação do Geledés – Instituto da Mulher Negra