Prefeitura abre centro de “referência” em autismo: onde e para quem?

Quantos e quem são os alunos que usufruirão desse lugar chamado de
referência? Virão de bairros como o Tatuquara, que fica mais de 30 km do
Edifício Delta, onde foi inaugurado o CEETEA – Centro de Ensino Estruturado
para o Transtorno do Espectro Autista? Para as famílias, realmente é um
transtorno um local de tão difícil acesso!

Porque o Centro Especializado será no Edifício Delta que é um prédio
administrativo? Quem vai atender as crianças? Qual a prioridade para o
atendimento no centro especializado? São questões que o SISMUC está
apresentando via ofício para secretaria de Educação.

A começar pela sigla não há diálogo com a população! São tantas letras
que o próprio nome já torna o lugar uma incógnita. Os termos rebuscados trazem
a ideia do real distanciamento da gestão Greca em relação a população mais
carente e que necessita de maior cuidado e atenção do poder público.

Redução do atendimento nos CMAEEs

A Prefeitura vem restringindo o atendimento aos estudantes de inclusão
do município desde 2017, reduzindo os atendimentos nos Centros Municipais de
Atendimento Educacional Especializado (CMAEEs). Esses centros anteriormente
contavam com atendimento de profissionais de fonoaudiologia e psicologia, tanto
nas terapias como nas avaliações psicoeducacionais que são praticamente
inexistentes na rede municipal.

Com a falta desses atendimentos, os alunos são encaminhados para as
unidades básicas de saúde, onde aguardam o atendimento para triagem e
avaliações em filas intermináveis. Essa demora compromete em muito o
desenvolvimento acadêmico e social dessas crianças. Sem contar que o
atendimento é realizado em clínicas conveniadas que promovem terapias grupais
ou de 30 minutos individuais, o que efetivamente não surte muito efeito.

Propaganda esconde falta de investimento para o avanço da inclusão

Curitiba tem se tornado pioneira em maquiar e manipular dados que não
representam a realidade da inclusão no município. Quando diz que o atendimento
aumentou, não conta que isso ocorreu de forma precarizada e que os alunos de
inclusão, que eram atendidos por profissionais formados e de carreira, hoje são
atendidos por acadêmicos em formação. Os estagiários que atuam nessa função são
chamados pela Prefeitura de profissionais de apoio, o que já é alvo de investigação
do Ministério Público do Trabalho.

O atendimento para alunos de inclusão é um direito
garantido pela Lei 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, que continua
sendo desrespeitado pela Prefeitura. Além dessas crianças ficarem sem
atendimento quando um estagiário desiste, o que é bem comum, pois o fato
de não ter ainda a formação necessária
para o apoio especializado interfere na conduta, que nos casos de inclusão
exige formação e experiência que um acadêmico ainda não possui, há também
situações em que o “atendimento” é feito de forma compartilhada, onde o
estagiário se divide entre dois ou mais alunos de inclusão em salas distintas.

Ainda é preciso avançar muito na efetivação dos
direitos da criança com deficiência para haver comemoração. Um centro de
referência localizado em um local tão distante da maioria das unidades
educacionais, principalmente das periferias da cidade demonstra que, a gestão
Rafael Greca ainda não entendeu as reais necessidades das famílias e que se
preocupa mais com a aparência do que com a realidade!