Revolta dos Posseiros no Sudoeste do Paraná: uma vitória do povo

Conhecida e estudada, a Revolta dos
Posseiros do Sudoeste do Paraná, ocorrida em 1957, é um dos poucos exemplos na
história do país em que o povo foi vitorioso. E a vitória garantiu que os
posseiros e colonos construíssem uma das maiores experiências bem sucedidas de
agricultura familiar.

Ao contrário, se as companhias de
terra, apoiadas pelo então governo do Paraná, tivessem sido vitoriosas, a
região caminharia para ser um grande latifúndio com poucos proprietários e com
a economia baseada no extrativismo da araucária.

A vitória foi fruto da coragem da
sociedade em defender duas questões fundamentais: primeiro, o ser humano, ameaçado,
violentado e alguns mortos pela ação dos jagunços pagos pelas companhias para
implantar o terror junto às famílias esperando uma debandada para a região de origem. 

A terra não era vista pelos posseiros como um bem imobiliário,
mas sim como um fator de produção de alimentos para saciar a fome da família e,
posteriormente, com a venda do excedente, buscar uma melhora das condições de
vida.

Nos dias 9 e 10 de outubro de 1957 a
mobilização foi tão grande que, com caravanas armadas de espingardas e
ferramentas, tomou cidades, destruiu as sedes das companhias, expulsou os
jagunços e implantou comissões administrativas.
Esse momento foi o ponto alto na construção de uma rede de solidariedade
entre os colonos e posseiros, fundamental para o período após a revolta.

Foi a solidariedade que garantiu o
enfrentamento das condições precárias da colonização: se não havia estradas, os
mutirões entravam em ação para construí-las, se não haviam escolas, outro mutirão e professores
voluntários, se não havia igreja, a união dos moradores a construía, se uma
família não pudesse fazer sua roça por problemas de saúde, os vizinhos se
juntavam e garantiam o plantio e a colheita, se um vizinho abatesse uma cabeça
de gado, os vizinhos todos tinham carne fresca, se um vizinho fosse de carroça
para a vila, fazia as compras para os outros, e, mesmo com o trabalho duro de
“amansar a terra” sobrava tempo para o terço,
o chimarrão e os serões.

A experiência de solidariedade entre
vizinhos fez voos maiores, pois as necessidades foram mudando. O resultado foi
a criação de cooperativas para garantir a compra e comercialização coletiva, de
sindicatos de pequenos agricultores para, inicialmente, cuidar da saúde com
médicos e dentistas e em seguida ser porta voz das reivindicações, e também, a
criação da Assesoar, entidade de apoio no estudo e debate sobre a realidade e
formação de lideranças

A vitória dos posseiros, em 1957,
criou as condições para que tudo isso fosse possível. Embora o capitalismo tenha implantado no
campo formas modernas de exploração da terra e da mão de obra, a agricultura
familiar ainda predomina, se adapta e enfrenta seus desafios de forma
organizada. Nos anos 80, com a crise do crédito e o excedente de mão de obra, muitos
agricultores ficaram sem terra, mas foram capazes de se organizar em torno do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Nos anos 90, com a dificuldade de
acessar o crédito no sistema bancário, criaram um sistema solidário de
cooperativismo, a Cresol, hoje reconhecida mundialmente. Quando os filhos precisam
sair da região para estudar, eles lutam e conquistam universidades, quando veem
os familiares necessitando se deslocar para a capital para tratamento de saúde,
são firmes e conquistam um hospital regional.

A história da Região Sudoeste é
única, genuína, rica e forte. É a prova de que a organização dá resultado, muda
a história e supera desafios. O povo foi
e é protagonista.