Ágora 18 | As histórias que não contam

Era uma vez um país
das histórias que não são contadas. Nesse lugar, cada vez mais, a
informação falsa predomina e a realidade é retaliada. O que vale é
quem grita mais, quem conta a melhor lorota. E, de tempos em tempos,
as histórias reais são escondidas em algum baú e escondidas em
algum porão desativado.

Mas nesse lugar
sempre tem também os aventureiros que gostam de espiar pelo buraco,
de passar por onde se está escrito “proibido entrar”, que teimam
em revelar os segredos que não terminam com “e foram felizes para
sempre”. É o caso da reportagem de capa da revista Ágora. Ela
conta como em Curitiba a alimentação servida em escolas e cmeis não
é bem o banquete que falam. Pelo contrário, antes de chegar ao
prato das crianças, o que está em jogo é o controle de quem
fornece a comida. O jornalista Pedro Carrano, esse instigador por
natureza, percorreu a verdejante e alegre cidade para descobrir que a
merenda terceirizada poderia ter um gostinho de comida de vovó se
fosse feita dentro dos equipamentos públicos.

Em outra história,
contada por Déa Rosendo, ela mostra que o governo golpista acha que
a saúde pública é a casa dos três porquinhos. O ministro da
saúde, Ricardo Barros, tem assoprado e derrubado diversos programas
de reconhecimento internacional apenas para privatizar o atendimento
à população.

Já o jornalista
Manoel Ramires conversou com Graça Costa. A prosa contada por ela é
digna dos contos de terror mais assombrosos. Pessoas sendo ceifadas
em seus direitos, trabalhando até morrer, comendo enquanto
trabalham, trabalhando enquanto vivem, vivendo enquanto sobrevivem.
Tudo isso depois que, num passe de mágica, a “sonhada” reforma
trabalhista for implementada no país do gigante belo adormecido.

Agora, o que não te
contam de jeito nenhum é que no seu prato tem mais agrotóxico do
que comida e que a opção a ele, a agroecologia, é exercida por
aquela turma vermelinha que o noticiário diz pra você odiar. Por
outro lado, Júlio Carignano visita gente simples e mostra que a
história deles é produzir um alimento sustentável e que respeite o
meio ambiente.

Nessa edição se
dedica um especial espaço em defesa da diversidade. Afinal, cada vez
mais no país do faz de conta se apagam, rabiscam e se arrancam
páginas de histórias reais apenas por não gostarem de seu
colorido. Sendo assim, a sessão “3 cliques” barbariza e traz uma
página dupla com Tinna Simpison e sua luz que ilumina e assusta quem
vive das sombras do preconceito. Noutro canto de Ágora, Márcio
Marins conta que o Brasil, o Paraná e Curitiba têm fechado o livro
e recursos para a comunidade LGBTI. A revista ainda abre espaço para
mostrar a turma que decidiu sair do armário, pular para fora da
casinha e ser protagonista de sua própria história. É o que aborda
a coluna “Arte e Cultura em Movimento” sobre “a transgressão
da arte.

“Naquele dia
faturou mais grana do que o povo na vida toda sem sequer ter pingado
uma gota de suor”. Evidentemente que não se trata de um best
seller qualquer. É apenas retrato da desigualdade por essas bandas
que a coluna “Curtas” conta. Coisas como gente ficando rica com a
exploração das pessoas e com sonegação de impostos. Recomenda-se
que a leitura dessa sessão de Ágora com o mesmo cuidado que se
passa os olhos pela coluna “Pensata”, de Pedro Elói, que aborda
os cem anos da revolução russa. Ele explica como essa utopia
sobrevive mesmo após tanta gente tentar exterminá-la de fora. E de
dentro.

A revista ainda traz
um belo texto da ex-deputada Luciana Rafagnin sobre os 60 anos da
revolta dos posseiros e o alerta da jornalista Thea Tavares sobre o
enfrentamento da violência contra as mulheres. Pois é, nossas
heroínas do cotidiano são mortas diariamente enquanto os larápios
que nos governam lhes negam abrigo. Essa é, definitivamente, uma
história mal contada com a necessidade de escrever novas páginas e
capítulos.

Bom, vamos
terminando essa apresentação de Ágora 18 falando que a
coordenadora do Sismuc, Adriana Claudia Kalckmann nos convida a
quebrar uns cadeados e levantar a tampa de alguns baús: “eu tive
em mais encontros com a PM do que com a minha família. Levei mais
gás de lacrimogêneo no rosto do que pude sentir em algum momento a
suave brisa da manhã”, descreve. Adriana, não desista do orvalho.
Vamos lavar o rosto e seguir contando histórias não reveladas nas
páginas de Ágora com a diagramação da Ctrl S e coordenação de
Soraya Cristina Zgoda. Em uma noite fria de lua cheia as estrelas
cintilam e nós resistimos em busca de um novo ciclo.