Vereador responsabiliza “marginais de outros estados” pela violência em Curitiba

O
vereador de Curitiba Tito Zeglin responsabilizou os “marginais de
outros estados” pela crescente onda de violência na capital do
Paraná. A declaração polêmica foi dada durante o pequeno
expediente da Câmara Municipal ontem (26). No entanto, ele não
disse de quais estados migram os bandidos e tampouco discutiu o papel
do poder público na proteção dos cidadãos.

A
declaração de Tito Zeglin ocorreu após ele ler carta em que uma
curitibana reclama da falta de segurança na cidade e no entorno de
um clube da cidade. De acordo com o parlamentar, é seu papel
defender os interesses do povo.

Por
outro lado, Zeglin não enxergou como origem na violência o aumento
da desigualdade de renda e os cortes que a Prefeitura de Curitiba e o
governo do estado fazem na área de segurança pública. O vereador
preferiu responsabilizar os “marginais de fora”, afinal tem sido
“fácil” cometer assaltos em Curitiba.

Zeglin
adota estratégia de xenofobia ao responsabilizar os outros – os
não curitibanos – pela insegurança. O vereador não leva em
consideração que uma capital como Curitiba há um bom tempo tem
entre seus moradores cidadãos vindos de outras cidades e estados que
escolheram aqui para viver, trabalhar e pagar seus impostos. Não,
ele encontrou a solução mais fácil, que é colocar a culpa nos de
fora: “Curitiba tem sido palco de muitos marginais que vêm de
outros estados do Brasil”.

Se
ele tivesse se debruçado mais nos números, saberia que a capital
tem atualmente quase dois milhões de habitantes, de acordo com o
IBGE, sendo um crescimento populacional que 600 mil pessoas desde
1991. É portanto, a 8
a maior cidade do país com todos os
problemas que uma metrópole tem: falta de segurança, saúde e
educação.

Agora,
porque Curitiba está entre as 50 cidades mais violentas do mundo?
Não deve ser apenas por culpa dos marginais forasteiros. A migração
é um fenômeno que abrange países, estados, cidades, bairros, ruas.

Talvez
a falta de investimentos do poder público sejam uma fonte de
explicação mais plausível. No governo do estado, por exemplo, o
governador Beto Richa acaba de aprovar o aumento das horas extras da
Polícia Militar e o retorno de praças já aposentados porque
simplesmente não contrata novos profissionais. O modelo de gestão
foi chamado de “legalização do bico”. Isso sem contar as
diversas imagens de policiais empurrando viaturas por falta de
gasolina para “perseguir os marginais de outros estados”. Ou o
caos penitenciário que levou o Ministério Público do Trabalho a
mover ação contra o governo por melhoria nas condições do
presídio.

Por
outro lado, o vereador atua em Curitiba. Neste caso, poderia
conversar com os guardas municipais. Eles têm reclamado do efetivo,
que estaria abaixo dos 1,2 mil recomendados. Em conversa com os
guardas, os trabalhadores dizem que “falta tudo”. Muitos têm que
reparar seu fardamento ou até comprar sua própria botina, uma vez
que a gestão não ofertaria. Os guardas também reclamam que a
Prefeitura de Curitiba, na impossibilidade de ampliar o efetivo,
sugeriu ampliar a jornada em 12 horas. Mas a proposta desagrada
porque os descontos se equivalem aos benefícios. Ou seja, fica no
zero a zero. É bom destacar que na mesma CMC, no mesmo dia, o
secretário de finanças Vitor Puppi admitiu que a gestão deve R$ 18
milhões em horas extras para servidores municipais. Ou seja, a
guarda municipal tem preocupações maiores do que fazer a guarda
particular das empresas de ônibus contra “perigosos fura catracas”
como tem sido a marcado do prefeito Rafael Greca.

O
vereador Tito Zeglin, preocupado que está com a violência, pode
aprofundar o debate sobre a responsabilidade do poder público na
insegurança dos cidadãos. Sem investimentos na área, tanto os
marginais de fora como os daqui continuarão “tendo vida fácil”.