Os capachos do Greca

É preciso reconhecer: não é fácil
a tarefa de ser um capacho. 

No campo, a História brasileira registra a figura
dos “capitães do mato”, que era a gente pobre que fazia o trabalho sujo do
coronel, em troca de alguns benefícios.

Em Curitiba, infelizmente, temos
uma situação parecida. Os 28 vereadores da base do prefeito Greca têm sido
testas de ferro de medidas impopulares do nosso alcaide fanfarrão.

Capitaneados pelo líder do
governo, Pier Petruziello (PTB) e pelo presidente da Câmara, Serginho do Posto
(PSDB), “posto” onde ele deve abastecer o “tratoraço” de certo, os vereadores
simplesmente aprovaram, em pouco mais de um semestre, várias medidas que
escolhem os trabalhadores do município para pagar a conta do ajuste fiscal.

Foram aprovados cortes na
condição de vida dos servidores públicos; a terceirização na saúde e educação
para preencher equipamentos públicos prontos e sem uso; apresentação de um
projeto que criminaliza os professores e a liberdade de expressão em sala de
aula – o “Escola Sem Partido”, apresentado por Thiago Ferro (PSDB), ao lado de
Ezequias Barros (PRP) e Osias Moraes (PRB) – com aval do grupelho de segurança
privada do Movimento Brasil Livre (MBL) e do “liberal” Eder Borges – quem
detesta o Estado, mas ama um cargo comissionado. Aliás, vereadores esse acusados
de corrupção pelo Ministério Público do Paraná.

Os vereadores, com isso, ficam
como pobres cãezinhos de guarda de Greca, enquanto o prefeito publica belas
fotos, memórias e desfila o seu conhecimento de província no Facebook. São os vereadores que, eleitos
pela sociedade nos bairros e entidades, devem prestar contas aos servidores
públicos, que têm protestado em frente à Câmara Municipal – um espaço que cada
vez mais avesso à participação popular e cada vez mais com a presença de
policiais no entorno. Onde fica a tal casa do povo? A democracia? O respeito?

Essa tensão é fácil de ser
percebida na postura de Pier Petruziello, sempre com a postura agressiva e na
defensiva, que chegou até a agredir verbalmente a vereadora professora Josete
(PT) durante o trâmite de votação do pacotaço de ajuste fiscal. As
justificativas absurdas de Petruziello exemplificam o desespero: ele chegou a
afirmar que à população não interessa se “é terceirizada ou não a gestão de uma
unidade de saúde” – como se não interferisse a qualidade do trabalho do
servidor, as condições, a precarização e como se remanejamento de funcionários
ao Deus dará não prejudicasse o serviço público. O vereador está precisando ir
mais a campo para conhecer a realidade.

Resta aqui destacar a posição dos
vereadores de oposição que, sem conformar uma bancada, têm, no entanto, tido
uma postura com bom senso nas votações. Mais do que isso, exigindo o óbvio: que
esses assuntos sejam debatidos nas comissões e em audiências públicas com a
população. Sem atropelos, violência e falta de democracia. Mas nem isso tem
sido respeitado.

Aos vereadores da situação, que
não querem servir apenas à sociedade protetora dos animais, fica o apelo: se
vocês têm o mínimo de dignidade e o mínimo de identidade com o povo, que ao
menos decidam com um pouco de independência. Como já escreveu um dos vereadores
da oposição: poder transitar e receber o respeito dos trabalhadores depois das
votações, não tem preço!