Ocupações e resistência

O
calor ainda dominava a cidade quando surgiram os primeiros boatos do pacote de
ações do prefeito eleito. Confesso: ninguém conseguia acreditar que esse senhor
se valeria de atos inconstitucionais nacionais para pagar suas dividas de
campanha. Porém, no dia do aniversário da cidade, apresenta-se o projeto na
“Casa do Povo”, ainda pior que o esperado por aqueles que estavam acompanhando
o processo.

Conversávamos
dentro das unidades, mas eram tão absurdas as propostas que poucas pessoas
acreditavam. Alice ficaria invejosa, pois superavam, e muito, seu país fantástico.
Não só ele adiava adata-base dos servidores, comoaumentava o
desconto do IPMC, reduzia o 13º, colocava em xeque o valor do vale transporte.

Assim
demos início às assembleias e mobilizações para a greve geral dos servidores e esses
começaram a compreender o quanto estavam perdendo a cada dia de trabalho, e o
quanto ainda perderiam, e foi nesse espírito que iniciamos nossa greve no dia
12 de junho – um ato de amor à nossa cidade – depois de ser votado o regime de
urgência para esses projetos.

Sem que
os vereadores, que já haviam ganhado visitas com inúmeras promessas do senhor “Prefeito”,
quisessem conversar conosco, ocupamos o plenário da Câmara, no dia 13 de junho,
com um sentimento de revolta, de angústia, uma vontade de mudar o mundo e a
esperança que poderíamos fazer a diferença naquele momento, ali na Câmara e
acima de tudo com o choro preso na garganta, quando foi decidido pela
assembleia pela desocupação, pois o medo de represália da policia era palpável.

A
conversa prometida não surtiu efeito nenhum e, no dia 20 de junho, estávamos novamente
em frente à Câmara, com mais vontade de lutar por nossos direitos, com mais
pessoas se unindo a nós. Fomos recebidos com um verdadeiro aparelho de guerra
da Polícia Militar. Mesmo com toda a chuva da noite, permanecemos no
acampamento e na ocupação. Quando algumas pessoas entraram nas galerias da
Câmara, não imaginávamos o horror que veríamos lá de cima, revoltados pelo
descaso dos vereadores, os servidores arrancaram com uma bravura descomunal as
grades que os separavam da polícia e alguns conseguiram ocupar o Plenário pela
segunda vez, mas não sem agressão dos policiais, que bateram nos servidores
desarmados. Dentro da galeria gritávamos para a sessão ser suspensa e, quando
enfim perdemos a voz, o presidente a suspendeu.

Mesmo
em situações deploráveis permanecemos resistindo, sem banheiro e com pouca comida,
mas com a força vinda do lado de fora. Novamente foi com lágrimas incessantes que
desocupamos, pois a decisão de quem estava ocupando era permanecer, mas
dependíamos da assembleia que fora realizada fora da Câmara, assim conseguimos
novamente adiar o processo.

Ópera de Arame: espetáculo da covardia

Infelizmente,
na semana seguinte, dia 26 de junho, os vereadores covardemente mudaram o local
de votação para a Ópera de Arame e, se na semana anterior tinha efetivo
policial, nesse dia eles estavam preparados para a guerra, inclusive com
efetivo vindo do interior do estado e com o antibomba – que deveria ter sido
usado neles, pois foram os únicos que portaram e jogaram bomba nos servidores.

Em
uma ultima estratégia de mobilização contrária, um grupo ocupou a prefeitura de
Curitiba, e ali mostramos novamente nossa força e resistência perante o
prefeito que se recusou a aparecer e conversar com quem realmente faz a cidade.
Fomos ameaçados de várias formas, desde fisicamente até a prisão, mas
permanecemos bravamente, até sermos forçados a sair por uma reintegração de
posse, às 23 horas.

Com
o sentimento de que o projeto foi aprovado, mas a certeza de que a luta e a
resistência a esse governo permanecerá todos os dias, pois somos maiores que
ele e nossa força se faz da luta diária, ainda ouço a emblemática frase ao
ocuparmos: “A Câmara de Vereadores de Curitiba volta a ser a casa do Povo.
Tomada pelo Povo” e sinto um imenso orgulho das pessoas que ocuparam e fizeram
parte dessa luta conosco.