Mundo bélico

O recém empossado presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, ameaça criar mais uma guerra no mundo, desta vez
contra a Coreia do Norte, o que traz o risco de ser uma guerra com o emprego de
arma nuclear.

Os elementos de fundo desta prometida
escalada bélica do governo estadunidense precisam ser entendidos. As
explicações de que Trump é fora da casinha são respostas muito fáceis a um
problema muito mais complexo e que diz respeito ao atual estágio da economia
mundial capitalista em crise.

Em primeiro lugar, fazer guerra
corresponde a uma necessidade da principal indústria bélica do mundo, a dos
Estados Unidos, assim como de outros países capitalistas chamados de avançados.

Donald Trump acabou de aumentar em 10%
os gastos militares estadunidenses, o que eleva estas despesas em mais de 50
bilhões de dólares, ou seja, em mais de 150 bilhões de reais. Através da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) os Estados Unidos estão pressionando os
países membros a expandirem seus gastos militares para, no mínimo, 2% do PIB, o
que representa muitos bilhões de dólares de acréscimo com esse tipo de despesa.

Essa escalada de novos investimentos
em gastos militares faz enorme pressão – juntamente com as dívidas públicas
acrescidas para o salvamento dos bancos com a crise das subprimes de 2008 – para que
sejam comprimidos ainda mais os gastos em serviços públicos em nome de despesas
destrutivas. É assim nos Estados Unidos e nos países da Europa, bem como na
China, na Coreia e no Japão.

Os Estados Unidos, com a justificativa
de defender-se dos mísseis balísticos de longo alcance da Coreia do Norte, está
instalando, a 250 Km ao sul de Seul, capital da Coreia do Sul, um sistema de
defesa antiaéreo cuja conta vai sobrar para o povo sul-coreano. Declarou Trump:

“Eu já informei à Coreia do Sul que
será apropriado que eles paguem. É um sistema de cerca de 1 bilhão de dólares.
É fenomenal, isso destrói os mísseis diretamente no céu”, disse à agência
Reuters.

Guerra
gera lucro

Fenomenal mesmo vão ser os lucros das
indústrias estadunidenses encarregadas de instalar essas baterias antiaéreas.

Recentemente, os Estados Unidos
lançaram sobre o território do Afeganistão uma grande bomba não-nuclear chamada
de GBU-43, também batizada popularmente de “a mãe de todas as bombas”,
por sua capacidade destrutiva. Apresentada como uma arma de “choque e pavor”
cada ogiva da GBU-43 custa 16 milhões de dólares (50 milhões de reais). Seu
uso, além de atemorizar tem o intuito de fustigar por uma nova corrida
armamentista capaz de aquecer um mercado muito apreciado pelos investidores da
bolsa de valores de Wall-Street.

Não
podemos perder de vista que a guerra tem sido um grande negócio capitalista, um
meio de subjugar povos, abocanhar riquezas naturais e impor mercados.

O rufar de tambores
de Trump contra a Coreia do Norte, além de servir para fomentar a indústria
bélica dos Estados Unidos, aquecendo o mercado de ações de Wall Street, tem também como objetivo correlato um forte jogo de
braço com o governo chinês para que abra ao mercado suas grandes empresas
estatais, seu sistema financeiro que continua estatal, e que somam
trilhões de dólares. Na verdade, a pressão militar real e principal dos Estados
Unidos é sobre a China, usando a Coreia do Norte (aliado declarado e sustentado
pelos chineses) como pretexto para um reforço da presença militar de suas
tropas e de um enorme arsenal de guerra naquela região do pacífico.

Hegemonia Xiling Lingue

Na verdade, trata-se da formação
de um poderoso cordão bélico para isolar a China e pressioná-la a aceitar as
condições de um capitalismo em crise e que precisa retomar para o controle
privado um volume de riquezas que a revolução proletária chinesa de 1949 retirou
do controle do mercado capitalista mundial e desenvolveu como propriedade do Estado
chinês. Não é de menor importância que Trump tenha autorizado o bombardeio ao
aeroporto militar Sírio, no último 7 de abril, durante um jantar com o
presidente chinês Xi Jinping, aliado com a Rússia do governo de Bashar Al-Assad,
numa clara demonstração de advertência contra a própria China.

Por ora, o governo chinês aceitou
retaliar a Coreia do Norte, a pedido dos Estados Unidos, cortando parte de suas
importações de carvão, o que tem impacto na economia da Coreia do Norte.

Muito embora o objetivo declarado
por Trump e seus aliados da OTAN seja tão somente o de buscar dissuadir o
mandatário coreano Kim Jong-un a desistir de seu plano de construir a bomba
atômica, a face oculta é o alvo central dos Estados Unidos por detrás
de tudo é o de dobrar a resistência dos governantes do Partido Comunista Chinês
em submeter-se completamente às demandas de Wall Street por privatizar o máximo dos ativos nas mãos do
Estado chinês. Essa é uma questão polêmica e que cria tensões na cúpula chinesa
dado o receio da reação popular que pode advir de uma brutal retirada de
direitos conquistados, a começar pelo emprego e moradia.

Através da guerra bélica ou da
guerra governamental, policial e midiática pela retirada de direitos dos
trabalhadores e dos povos, em todo o mundo o capitalismo não pode sobreviver
senão ameaçando destruir a civilização humana. Esse é o motivo pelo qual os
trabalhadores de todo o mundo devem se unir contra a guerra, a exploração e o
trabalho precário. Esse foi o sentido de uma Conferência Mundial realizada em 2016
em Mumbai, na Índia, que constituiu o Comitê Operário Internacional para ajudar
na luta solidária mundial contra a guerra e a exploração.