Em ato de desagravo em defesa das servidoras municipais, mulheres repudiam violência no trabalho

A direção do Sismuc realizou nesta quinta-feira(27) o ato de desagravo em defesa das servidoras municipais, em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Boa Vista. O ato foi em repúdio à violência sofrida por uma enfermeira agredida no dia 20 de abril por uma paciente que aguardava atendimento naquela unidade. A atividade contou com diálogo e panfletagem de materiais do Sismuc para as pessoas que trafegavam na Avenida Paraná e entrega simbólica de margaridas para funcionários e usuários da UPA. Também houve protestos em relação à violência contra as mulheres no ambiente de trabalho, após denúncias de que as servidoras estão sendo humilhadas e inferiorizadas pela gestão.

A técnica de enfermagem Caroline Queiroz Tavares explica que a situação ocorreu devido à dificuldade dos pacientes compreenderem a rotina de trabalho da unidade, que realiza serviço de urgência e emergência. “Muitos usuários não entendem a classificação de prioridade, o que faz com que alguns pacientes sejam atendidos com mais rapidez. Nós não temos o que fazer; é uma rotina para quem atua com urgência e emergência. A população tem de exigir mais médicos ou procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima para o seu atendimento. Os médicos que aqui trabalham também atendem pessoas de municípios vizinhos, o que aumenta a demanda em cerca de uns 70%”, destacou.

A servidora Marli Ribeiro de Souza , também técnica de enfermagem, argumentou que a equipe de enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares) é responsável pelo primeiro contato e atendimento junto aos usuários, mas que também são vítimas constantes de agressões. “O usuário chega na recepção e é avaliado em  menos de meia hora. Depois ele é enviado para a fila médica. Como ocorre a demora no atendimento médico, muitos usuários vão para cima da parte mais fraca e frágil que é a equipe de enfermagem  que está desprotegida no ambiente de trabalho”, protestou.

A usuária Diva Rodrigues da Mota ressaltou que o problema de atendimento no serviço público de saúde não está no servidor, mas na gestão. “É um problema do Governo, pois está faltando estrutura, está faltando médico e remédio. Os funcionários não podem fazer milagre, pois eles atendem da maneira que podem. Há falta compreensão e paciência e também falta de médico. Os servidores fazem o possível, mas para atender tem que ser o médico. Não é culpa dele (funcionário) se não há médicos suficiente”, ponderou. A coordenadora de mulheres do Sismuc, Maria Aparecida Martins Santos, acrescentou: “Não aceitaremos nenhum tipo de violência contra a mulher, nem moral, física ou psicológica”.

Para a técnica em enfermagem Liliane Habro de Sá, que atua na Unidade Básica de Saúde do Barreirinha e veio se unir ao ato em solidariedade à colega de profissão, a agressão desse tipo é um absurdo no serviço público. No entanto, enfatiza que a sociedade precisa de maior esclarecimento do que está ocorrendo na UPA, local onde os enfermeiros são mais expostos devido ao grande número de pessoas atendidas. “As UBS’s são restritas aos próprios moradores do bairro que muitas vezes já conhecemos, então, acabamos tendo um vínculo, mas não estamos livre de agressão, porque isso já aconteceu comigo. Mas os profissionais não podem ser agredidos no seu local de trabalho.É complicado falar dessa situação, mas a forma correta é mostrar para os usuários o que a estamos sentindo e expor a verdade sobre o que estamos passando no trabalho. A nossa luta não é só por salários, por data-base; é pela sociedade, pelos nossos filhos e nossos netos que vão ser cada vez mais prejudicados por erros da gestão que poderiam ser evitados”, frisou.

Coren repudia agressão

O Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren/PR ) divulgou nota na qual repudia o ato de violência dirigido a enfermeira agredida por paciente que aguardava atendimento. De acordo com o documento, “O Coren/PR informa que desde janeiro vem solicitando audiência com o secretário municipal de saúde de Curitiba, médico João Baracho, para discutir, entre outras questões, o déficit de profissionais de enfermagem nas UPAS; haja vista a necessidade de ampliação da equipe de saúde e a garantia de condições adequadas para acolhimento das pessoas que buscam as unidades de saúde para uma assistência segura e de qualidade”.

De acordo com a Pesquisa Perfil da Enfermagem (Cofen/Fiocruz), realizada em 2015 e que contou com entrevista de profissionais em cerca de 50% dos municípios brasileiros e em todas as unidades da federação, a equipe de enfermagem no Brasil é liderada por mulheres, com 85,6% do total, contra a média nacional de 14,4% de homens. A enfermagem é mal paga no país inteiro, sendo que nos setores privado e filantrópico há maior concentração de subsalários, com 22,8% e 32,7%, respectivamente. Segundo, a Fiocruz, uma parcela de 13,6% dos entrevistados declararam ter renda total mensal de até R$ 1 mil, condição de subsalário.