Aplicativo da prefeitura faz agendamento de consultas, mas não garante atendimento médico

A Unidade de Saúde Estrela, da regional Portão, se preparou para receber o prefeito Rafael Greca, que tinha escolhido aquele equipamento para lançar o projeto piloto do aplicativo de marcação de consultas por celulares smartphone, o Saúde Já Curitiba. O objetivo da ferramenta é por fim às filas nas portas das unidades (postos) de saúde. A novidade chega com apreensão entre os servidores de saúde da US, que apontaram vários problemas, desde a falta de necessidade desse investimento até a ineficiência na triagem.

Em visita à US, as coordenadoras do Sismuc Maria Aparecida Martins Santos (Mulheres) e Rosimeire Aparecida Barbieri(Finanças) conversaram com a equipe sobre a nova tecnologia. Maria relatou que as trabalhadoras da saúde criaram um ambiente de protesto, caso o prefeito aparecesse no local, mostrando o descontentamento com a gestão na área de saúde. Com fita preta amarrada no braço, enumeraram as dificuldades que vem enfrentando. “Elas relatam faltar medicamentos básicos na farmácia da US e vários insumos, tais como materiais imprescindíveis para um bom atendimento à população, como agulhas pretas para coleta de sangue. Também faltam materiais de uso cotidiano como sabão, caderno para anotações, pastas para arquivos de documentos, entre outros. De acordo com elas, até copos descartáveis e cortes no gramado foram doados pela comunidade”, expõe Maria.

Sem atendimento médico – Em relação ao aplicativo, Rose explica que as servidoras frisaram que, mesmo em caráter ainda experimental, a tecnologia não irá garantir o atendimento médico. “O que vai acontecer é que o usuário terá a sua “senha” garantida. Ou seja, é como se ele estivesse presencialmente no local, já que vai ser chamado por ter registrado o seu ‘agendamento de atendimento’ marcado com uma espécie de funcionário virtual. Mas é preciso ficar claro que o procedimento será o mesmo. Ele vai ter que aguardar a consulta. Não há nada de novo no processo, não garante a consulta médica, mas apenas a triagem”, lamenta Rosimeire

Segundo as profissionais de saúde, a falta de eficiência na gestão de saúde combinada com “marketing” vai contribuir para gerar desgaste tanto na equipe como nos usuários. “As servidoras não serão remuneradas para fazer mais este serviço, que é aprender a lidar com a tecnologia e orientar a população quanto ao uso. Os usuários que estiverem presentes no local podem se sentir ultrajados e prejudicados por deduzir que aqueles que utilizaram o aplicativo “estão cortando fila”. Não há utilidade”, pondera Maria.

Quem paga a tecnologia? – Outro fato que vale ressaltar é que o projeto piloto será implantado em uma área onde os atendimentos são mais rápidos. Além disso, é preciso denunciar uma questão sócio econômica e geracional. “Não podemos afirmar se as pessoas têm ou não smartphones, se tem ou não conhecimento para lidarem com o aplicativo, mas podemos questionar se houve um estudo profundo sobre os usuários daquela região, com dados sobre idade, condição econômica, uso de tecnologias digitais. Esse cruzamento é necessário, pois como vamos saber se o que estamos pagando (essa tecnologia) vai ser eficiente ou não. O dinheiro sai da conta do contribuinte”, justificou Rosimeire.

Para o usuário ter o acesso ao aplicativo ele terá de informar o seu CPF, a data do nascimento e o número do cadastro no Sistema Único de Saúde(SUS). Por fim, ambas acreditam que há outras formas de melhorar a política de atendimento e prevenção de doenças. “O prefeito não está ouvindo os servidores. Não há respeito com a categoria. Poderíamos ter explicado para os gestores, por exemplo, que não há 30% de cobertura de internet no Bairro Rigoni, que faz parte da região”, comentou Rosimeire. “O aplicativo já existe, mas quanto está sendo gasto com ele? Cada vez está se mostrando que a prioridade do Rafael Greca é gastar em marketing e não acabar com as filas ou promover melhorias no trabalho do servidor”, acrescentou Maria.

O aplicativo para marcação de consultas nas US’s está sendo lançado este mês na regional Portão.