Reações e recuos

O mundo tem sido tomado por governantes fanáticos. Fugindo
do bom senso, eles expõem suas ideias e agem independente do que as pessoas
pensam e possam tolerar. Geralmente, alegando serem de fora da classe política,
enveredam para posturas altamente populistas. No entanto, a reação da
sociedade, de grupos organizados e econômicos pode ser um freio para suas
megalomanias.

A principal figura de fanatismo ideológico é Donald Trump. O
presidente dos EUA acha que pode impor sua vontade e perigosas peraltices via canetadas.
Recém-empossado, de cara assinou decretos que inibiam a entrada de mulçumanos
em solo norte americano e deu continuidade ao plano de construir um muro para
separar o México.

Essas ideias sem grande cálculo político estão sendo combatidas.
Na sexta-feira, mulçumanos ocuparam o Aeroporto JFK, em Nova York, em protesto
contra o decreto e a favor da entrada de pessoas que haviam chegado ao país.
Eles obtiveram uma vitória parcial na medida em que a juíza Ann Donnely atendeu
a uma petição e negou a deportação de estrangeiros de sete países.

Recuo faz de conta

Do outro lado, o presidente do México, Enrique Peña Neto,
cancelou a viagem aos EUA após Trump assinar decreto para a construção do muro.
A situação é bem delicada, uma vez que o presidente mexicano foi obrigado – por
cidadãos de seu país – a endurecer o discurso latino. Ele, na verdade, não
parece querer romper com Trump. É dado ao “complexo de perro” que o Brasil vem
retomando nos últimos meses, desde que José Serra assumiu o ministério das
Relações Exteriores.

Engula essa

Sem nenhum comprometimento com Trump e sua turma, a
cervejaria Corona foi mais enfática em sua reação. A multinacional lançou
comercial dizendo que a “América
é grande
” porque é um continente de norte, centro e sul, formado por muitas
etnias, cores e 35 países. O clipe termina afirmando que “todos somos
americanos”.

Apaga essa

Descendo um pouco mais, São Paulo também vive seus dias de
governante populista. João Dória Jr abriu guerra contra a pichação e contra os grafites.
Uma batalha que já nasce perdida, uma vez que ele ataca a consequência e não a
causa. O prefeito, cujo slogan da campanha é “Cidade Bonita”, acabou deixando a
capital paulista mais feia ao retirar o colorido e a emoção das obras urbanas
pela tinta cinza. O tiro saiu pela culatra principalmente depois que ele apagou
os desenhos da ponte 23 de maio. Sua ação estimulou a reação dos pichadores e
também da sociedade, que critica a higienização da arte urbana. Resultado, ele
terá que gastar R$ 800 mil para refazer os grafites.

Apaga essa (2)

Mesmo assim, Dória continua com a intenção de apagar boas
políticas. É o caso da redução da velocidade nas marginais. O prefeito tucano
apagou os dados da gestão de Fernando Haddad e maquiou os números para tentar
justificar o aumento da velocidade. Flagrado na mentira, o prefeito teve que
dar explicações. Mas, por hora, a velocidade das marginais seguem aumentadas,
mesmo após posicionamento contrário de entidade como a Organização Mundial de
Saúde.

Disse e recuou

O presidente do PT, Rui Falcão, mudou a orientação do
partido após pressão. Em 20 de janeiro, ele havia dito que o PT devia ocupar
todos os espaços na Câmara e no Senado. Posição durante crítica pela
militância, por Lindbergh e por Gleisi Hoffman. Para esses, ocupar cargos é
infinitamente menor do que a luta que o partido deve fazer diante do golpe.
Agora, além de apoiar candidatura do PDT na Câmara, o partido deve migrar na
candidatura do senador Roberto Requião, que é do PMDB, mas foi contra o golpe.

Pode ser uma mudança no PT que ocorre mais uma vez
pressionado pela base. Essa pressão surtiu efeito lá trás para evitar que o
partido salvasse Eduardo Cunha. No entanto, não serviu para as coligações de
2016.

Meia pressão

A presidente do STF ministra Cármen Lúcia homologou as 77
delações premiadas da Odebrecht. Mas, ao contrário do que faria Teori Zavaski,
ela não divulga o nome, nem a quantia recebida pelos políticos envolvidos. A
presidente está protegendo a classe política com essa decisão. É preciso “comprar
e dar nomes aos bois”.