A visão de Guilherme Delgado, economista aposentado do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é de que tivemos a mudança do
modelo de inserção do Brasil na economia mundial, o que se consolidou nos anos
2000.
Assim, a economia brasileira fortaleceu os velhos laços com o
setor primário, agrícola e mineral, reforçando o papel de produzir matérias-primas
sem valor agregado e importar os demais itens. O pesquisador concorda que o
país passa por um processo de desindustrialização.
“Isso esteve casado com processo de valorização cambial, o
câmbio fica muito barato para esses setores exportarem, só quem tem a vantagem
comparativa natural, ligada ao setor primário, acaba impelido a exportar”,
afirma, em entrevista à Ágora.
O pesquisador também coloca no tempo que o Brasil vive a
perda da indústria desde os anos 1980. “Primarização do comércio externo e
desindustrialização, com perda significativa de participação no PIB, vem desde
1982 para cá, mas se intensificou. Desde 2008 e 2010 para cá se intensificou,
com a crise econômica financeira e mundial”, explica.
Falta de debate sobre a
indústria e questão nacional atinge debate da esquerda
No fundo, temos pendente o debate de um projeto de nação,
industrial e estratégico para o Brasil. Wladimir Pomar complementa essa
carência no debate da esquerda e da universidade. “Em geral, tem faltado à
esquerda e aos setores progressistas o debate sobre um projeto que supere o
atraso, a subordinação e a dependência econômica, assim como as desigualdades
sociais que caracterizam o Brasil em pleno século 21”, afirma Pomar.
Medidas contra a desindustrialização
– Controle de capitais de curto prazo e redução da taxa de juros;
– Desenvolvimento de tecnologia nacional;
– Orientação do Estado nacional para fomentar a indústria e projetos estratégicos;
– Mudar mecanismos como a isenção do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), vigente desde a lei Kandir-Collor, que isenta de impostos as mercadorias exportadas;
– “Adensar e modernizar, científica e tecnologicamente, as cadeias produtivas. Introduzir sistemas produtivos cooperativos e solidários, com viés socialista. Reconstruir e modernizar os sistemas de transporte. Regularizar o sistema de propriedade do solo urbano”, sugere Wladimir Pomar;