Sem indústria, sem projeto e sem rumo

A
Avenida das Indústrias de Curitiba é atravessada de cabo a rabo pela
reportagem. O que se vê é apenas igrejas pentecostais, duas ou três
concessionárias. Empresas, apenas três, bem no seu início, perto da Avenida
João Bettega.

A cena é comum para quem anda pelos arredores da Cidade
Industrial de Curitiba: barracões sem uso, indústrias abandonadas, o que abre o
tema da queda da participação da indústria na economia do país, o que já
acontece desde os anos 1980. É a chamada desindustrialização, que impacta
também o Paraná e, em especial, Curitiba.

Perto dali, tomando o caminho da rua General Potiguara, no
bairro Novo Mundo, o cenário segue o mesmo: mais antigas estruturas de fábricas
sem destino. Em nove de agosto de 2004, por exemplo, foi decretada a falência
da Diamantina Fossassene, a segunda maior fábrica de botões da América Latina. Logo
depois, os trabalhadores a ocuparam. Hoje, resta apenas a estrutura abandonada,
velhos cães de guarda da massa falida e um campinho de futebol alugado para os
finais de semana.

O fator crise econômica mundial foi decisivo para esta queda
de participação industrial na produção brasileira, apesar de programas de incentivo
fiscal a certos ramos da indústria. E este foi um triste preço de um governo
que inseriu mais jovens na aprendizagem industrial, mas que agora não encontram
as portas da fábrica abertas?

Mesmo o famigerado programa do Linhão do Emprego, que passava
por 18 bairros das regiões sudoeste, sul e leste da cidade, hoje sequer é memória.
O que foi feito de barracões empresariais, vilas de ofícios, condomínios
industriais e outros equipamentos construídos na década de 1990? Muitos seguem
ao sabor da especulação imobiliária.

O caminho segue e mais locais estão ao vento e ao tempo, da
Omelco Ltda à Ika Cerâmicas, de sul a norte da cidade. É mais que um debate
sobre patrimônio histórico. Mas de qualidade de empregos na cidade. O Dieese
informa que a participação da indústria na produção econômica foi maior em
Curitiba até o ano de 2004, quando atingiu o seu melhor momento (24,2%) e desde
então passou a decair e ser superado pela região metropolitana.

Causas

O processo de desindustrialização brasileiro tem como um dos
motivos a política de privatizações dos governos brasileiros, desde o período
de Fernando Henrique Cardoso, como descreve o analista político e escritor
Wladimir Pomar. Assim como muitas empresas, compradas por grupos
internacionais, deixaram o país.

“A privatização permitiu que grande parte do parque
industrial brasileiro fosse comprado e transferido para países de mão-de-obra
mais barata. Um dos exemplos é o da indústria química”, compara Pomar.

Outros problemas causam a quebra ou a transferência da
indústria nacional, segundo economistas: a administração que mantém alta a taxa
de câmbio, o que prejudica as exportações de manufaturados. A taxa de juros e o
atraso tecnológico para a competição são questões também importantes. O
problema é nacional, mas fica visível nos estados e cidades.

Barracão de
abastecimento está abandonado

Ainda na rua General Potiguara um enorme barracão da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) transformou-se numa estranha
cracolândia. Até mesmo a produção do campo sofre o impacto dessa desvalorização
de espaços que potencializem a produção de alimentos pela agricultura familiar.

Roberto Baggio, coordenador do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), afirma que o local deveria ser reaproveitado para
distribuição de alimentos vindos da agricultura familiar. Mas está parado há
anos.“Seria uma boa ideia para o abastecimento popular em Curitiba. Queremos
propor isso, em intermediação entre município –, é uma ideia”, afirma.

Curitiba perde
participação industrial e Região Metropolitana se mantém

Em Curitiba, o estoque de participação do setor de indústria
de transformação está em 10,3%, maior do que em capitais do sul do país. Porém,
responde ao quadro nacional de queda da indústria em comparação com o setor de
serviços. Os serviços em Curitiba aumentaram de 69,5%, em 1999, para 72,9%.

O aumento do custo da terra na capital é uma das explicações
dada pelo Dieese para a possível queda da indústria em Curitiba e, ao mesmo
tempo, para o aumento pequeno na RMC.

Transição incompleta
para setor de serviços

Da janela do seu escritório, a escritora canadense Naomi
Klein descreve o mesmo processo no famoso livro chamado “Sem Logo (No Logo)”,
no qual fala das regiões industriais abandonadas no seu país, o Canadá, em nome
da migração para regiões com força de trabalho mais barata, caso das Filipinas,
Ásia, América Central e México.

Porém, é fato que os países centrais conseguiram uma
transição da indústria para o setor de serviços sem tantos impactos. No Brasil,
ao contrário, a perda de empregos na indústria e o aumento do setor de serviços
são marcados por muita exploração do trabalho.

“Normalmente os países que possuem renda per capita acima de
US$ 30 mil (nações consideradas ricas) são aqueles que sofrem com o processo
natural de desindustrialização resultante da dinâmica estrutural de suas
economias, sem que isso reflita sobre o empobrecimento das suas populações.
Pelo contrário, verifica-se o desenvolvimento do segmento de serviços, como
setor dinâmico da economia, demandante de mão de obra altamente especializada,
de elevados salários, e gerador de alto valor agregado, cita-se como exemplo, a
produção de softwares”, destaca Camargo.

Gestão Fruet apostou na chamada “Economia Criativa”

A gestão Gustavo Fruet (PDT) investiu na apelidada economia criativa e em setores que são contabilizados como produção industrial – embora não sejam propriamente ligados à indústria de transformação. Essa é a visão de fonte da reportagem que atuou na secretaria de Trabalho da Prefeitura.



Gina Paladino, diretora presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento SA – que é um braço operacional de fomento e desenvolvimento –, comenta que há pouco espaço para uma política industrial a partir do município, o que atrela o setor à área tributária e de incentivos fiscais. “Neste caso dos governos municipais, as políticas de desenvolvimento econômico são concentradas nas políticas na área tributária, na área de finanças, tudo depende de alíquotas e tributos”, diz, citando impostos como ISS, IPTU, ITBI.



A Agência prioriza empresas da área de tecnologia da informação e comunicação (TIC), o que abrange segmentos como design, moda, vídeo, arquitetura e propaganda, entre outros. “Nos últimos anos a participação industrial em Curitiba está reduzindo e a área de serviços está aumentando assustadoramente. Dentro dela, o setor de alto valor agregado é a Tecnologia de Informação, e economia criativa é TI mais criatividade”, cita.



Gina reconhece a perda de participação industrial na capital paranaense mas, de acordo com estudos, defende que esse processo é compensado pela possível expansão da indústria de transformação na região metropolitana, onde muito está por fazer.



“Esse adensamento é muito importante. Assim retenho renda e setor de alto valor agregado. Tenho uma metrópole econômica com mais links de encadeamento indústria-serviços-indústria”, comenta.