Ao invés de uma reza uma praga de alguém

Assim como na música de João Bosco, dezenas de pessoas estiveram nesta segunda-feira (24) de frente pro crime. Muitas das quais pela primeira vez se aproximaram de um local onde um homicídio aconteceu. Como em toda cena como esta, há uma multidão de pessoas em volta. Policiais, advogados, jornalistas e curiosos. Todos sem respostas. Com algumas perguntas. Mas via de regra com muitas certezas.

Um menino de 16 anos morreu. Mas não há dúvida que ele não foi a única vítima. Na tarde desta segunda-feira também morreram duas mães e dois pais. Os da vítima e os do acusado. Na Delegacia de Homicídios, onde foram acompanhar o filho suspeito de cometer o crime, ficaram parados na porta olhando para o horizonte, como quem busca uma resposta ou tenta acordar de um pesadelo. Não se conversavam com palavras, apenas com olhares que se cruzavam em sabe lá qual galáxia. Mas certamente nunca imaginaram estar naquele local.

O jovem que morreu e o acusado eram amigos. Estavam juntos no Colégio Estadual Santa Felicidade. Chegaram no local por volta das 10h da manhã. Participaram das atividades de rotina da ocupação, como a limpeza do local.

Por volta das 14h30, segundo uma pessoa que prefere não se identificar e que acompanhou o depoimento dos três jovens encaminhados à Delegacia de Homicídios, escutaram gritos e correria. Quando saíram viram o acusado, em cima de um pequeno muro. Ele falou algumas palavras e fugiu.

Uma estudante correu para dentro do colégio e viu a cena. L.M, de 16 anos, estava caído e sangrava. Ela tentou estancar, mas pouco adiantou. O SAMU chegou em aproximadamente 10 minutos. Um tempo pra lá de razoável para um atendimento médico de urgência que precisa se deslocar. Uma eternidade para quem acompanhava a cena.

O jovem não resistiu e faleceu. Do lado de fora, sem saber ao certo o que tinha acontecido, a professora de língua portuguesa do colégio, Loren Reck, não acreditava no que estava acontecendo. “Passei aqui umas três vezes enquanto o colégio estava ocupado. No sábado eles estavam plantando flores no jardim. A comunidade estava ajudando e tudo estava em perfeita harmonia. Era um exemplo de cidadania. Não entrava ninguém na escola sem autorização. É uma coisa que não se explica”, disse a professora em um misto de tristeza e indignação.

Mas há sim explicação. A morte do jovem deriva não apenas de uma briga com seu colega de escola. Mas sim da banalização da violência, do uso de drogas legais ou não e ausência de limites. Professores, educadores, funcionários e demais envolvidos na comunidade escolar conhecem de perto o problema que tirou a vida do estudante. Ele faz parte da rotina das escolas, ocupadas ou não. Quem conhece alguém que trabalha em escolas públicas sabe do que se trata. Assim como sabem que muitas escolas ocupadas hoje estão em melhores condições do que antes dos estudantes tornarem-se responsáveis pelos seus cuidados.