Os sindicatos e o ato de ler

No dia 2 de julho, o grupo “APP
independente e democrática” promoveu, na cidade de Londrina, a segunda etapa de
seu curso de formação. Na primeira etapa houve falas sobre a necessidade de
formação do professor e a distribuição de leituras entre os professores dos
núcleos participantes. Nesse primeiro momento, o grande objetivo era o estudo
da realidade brasileira. O mote era: como transformar a realidade se eu não a
conheço?

Mas o que eu quero chamar a
atenção com este texto é sobre a importância e a necessidade da leitura. A
primeira referência que eu faço é a Monteiro Lobato. Apenas isto: “Somos o
que lemos”. A segunda referência remete a Albert Jacquard, ao seu
livro “Filosofia para não filósofos”. Nele, ele fala sobre a
alteridade e, ao falar dela, fala da solidão e ao falar da solidão fala da
companhia dos livros. “Eu tive a sorte de povoar esta solidão com todos os
autores encontrados nas prateleiras das bibliotecas e que foram bastante
amáveis comigo; nunca zombaram de mim, levaram-me a desejar contato com seres
de carne e osso, que são mais inquietantes, embora muito mais atraentes do que
aqueles de quem só restam palavras”.

Mas quem eu quero mostrar mesmo é
Roberto Saviano, o escritor italiano, confinado pela proteção do Estado, que
investigou a máfia e que fala dos resultados da leitura de seus livros e do
respeito que ele nutre pelo seu leitor. O livro em questão é “ZeroZeroZero”. Começo
com uma citação sua, retirada do Apocalipse: “Tomei o livrinho da mão do
Anjo e o devorei – na boca era doce como mel; quando o engoli, porém meu
estômago se tornou amargo”.

A partir desta citação, Saviano
nos dá um conselho: “Creio que os leitores deviam fazer isso com as
palavras. Metê-las na boca, mastigá-las, triturá-las e por fim engoli-las, para
que a química da qual são compostas faça efeito dentro de nós e ilumine as
turbulências insuportáveis da noite, traçando a linha que distingue a
felicidade da dor”. Localizei o versículo. É João 10:10 e se quiser contextualizar
é João 10: 1 a 11. O apreço ao leitor rapidamente se transforma em admiração
por aquele que “subtrai um tempo importante de sua vida para construir
nova vida”. E continua:

“Nada é mais poderoso do que
a leitura, ninguém é mais mentiroso do que quem afirma que ler um livro é um
gesto passivo. Ler, escutar, estudar, compreender é o único modo de construir
vida além da vida, vida ao lado da vida. Ler é um ato perigoso porque dá forma
e dimensão às palavras, encarna-as e as espalha em todas as direções”. Um
pouco mais adiante continua, agora já falando da importância de conhecer o
mundo do tráfico internacional da droga. “Conhecer é começar a mudar. Para
quem não joga fora estas histórias, não as ignora, sente-as como próprias, para
essas pessoas vai o meu respeito”. E ainda no mesmo tom, continua:

E junto com a proposta aos
sindicatos de se preocuparem com a formação de seus sindicalizados para que
possam lutar melhor, a minha última referência, que remete a Ray Bradbury,
ao “Fahrenheit 451”, ao personagem Beatty, o bombeiro transformado em
incendiário de livros, já que materiais impermeáveis ao fogo o levam a procurar
uma nova função: “Um livro é uma arma carregada na casa da vizinha”.
E voltando a Monteiro Lobato: Também somos o que não lemos.