Ser mãe é conjugar o verbo lutar

O caldeirão no Brasil está fervendo. São tempos de
mobilização e de muito envolvimento político em torno das varias pautas em
defesa da democracia e de direitos. Neste cenário se observa forte protagonismo
das mulheres e movimentos feministas. Existe todo um movimento que torna o
empoderamento das mulheres em alta. No entanto, esse protagonismo esbarra em um
desafio para nós: os nossos filhos.

O “empoderamento” é uma palavra criada para definir a ação
de tomar para si o poder, de ter voz, visibilidade e participar de movimentos.
Contudo, a necessidade de traçar seu destino pode fazer com que a mulher se
“desempodere” enquanto mãe e fazendo sofrer os seus filhos.

Se de um lado, por exemplo, no movimento, exigimos das
entidades patronais a destinação de espaços próprios para cuidados com as
crianças como creches no trabalho, por outro, na luta, são poucos os espaços de
reunião ou de atos que possuem algo direcionado aos filhos das militantes. As
crianças ficam brincando em volta das cadeiras, correndo entre as pessoas, e
muitas vezes, entediadas, “atrapalham a reunião” ou fazem a mãe militante ir
embora mais cedo das mobilizações.

Falamos tanto de empoderamento, mas nos atos – ultimamente –
não existem programação específica para aqueles que desde berço participam de
debates profundos. Não falo de recreadores, mas de algo simples como tinta, papel,
brinquedos emborrachados, livros infantis, bonecas de pano, artesanato etc. Uma
criança não precisa de muito. Apenas da sua imaginação e de um espaço
confortável. Nossos filhos gritam por um lugar assim a cada vez que nos abraçam
e pedem para ir embora durante uma reunião. Nesse sentido, parece que o empoderamento
é apenas para as mulheres que não tem filhos.

A mesma mulher que se empodera de cargos, atos e falas, vê
seu filho “largado” as margens da aceitação sem um espaço destinado a ele.
Observo mães com filhos no colo em exaustivas reuniões no período noturno, pois
não querem deixar de participar daquilo que acreditam. Se as falas destas
reuniões vêm sempre ao encontro do empoderamento da mulher, porém, oprime com o
ócio a criança que a acompanha. O tão sonhado espaço criança, por exemplo, corretamente
defendido pela Central Única dos Trabalhadores, não se concretiza nas sedes dos
sindicatos, nem nos espaços de deliberação como congressos e plenárias.

Defendo, portanto, que uma forma de empoderar as mulheres
sem tê-las pela metade nas mobilizações é manter um espaço organizado para os
seus filhos. Além ser um instrumento de formação para os pequenos cidadãos, será
um alento para as mães militantes que não querem se afastar dos ambientes
políticos.