A ocupação é a escola dos sonhos

São Paulo amanheceu com onze ETECs e duas escolas estaduais ocupadas.
O movimento protagonizado pelos secundaristas do estado ganha corpo e
avança. Nas escolas, alunos celebram o avanço das ações, pedem uma
escola democrática e exigem merendas de qualidade nos refeitórios.

“A ocupação é a escola dos sonhos. Aqui, é como pensamos que deve ser
uma escola, com envolvimento dos alunos na escolha do conteúdo, sem uma
relação autoritária com os professores, em que somos apenas submissos.
Aqui, não precisamos aprender apenas o que o Estado entende que é
importante”, afirma Marcelo Preto, 18 anos, um dos estudantes que ocupam
a o Centro Paula Souza e a ETEC Santa Ifigênia, ambas no mesmo prédio,
na região central de São Paulo.

Camila, de 16 anos, que ocupa o mesmo espaço, celebra os avanços
conquistados pelos secundaristas. “A ocupação começou na quinta-feira
passada. Nessa semana agora, tivemos a notícia de que as outras ETECs já
receberam merenda, não de qualidade, merenda seca, biscoitos e sucos,
mas receberam, já é uma vitória. Porém, não paramos aí. Queremos comida
mesmo, arroz, feijão e mistura.”

A exigência por merenda encontra amparo na realidade dos estudantes.
“As ETECs possibilitam que muitos estudantes de periferia possam se
profissionalizar. Esses jovens, dependem das refeições durante o dia
para ficar bem e saudável, para ter condições de estudar com
tranquilidade. Normalmente, não recebemos nada”, afirma Marcelo.
Lembrando que as ETECs não possuem cozinhas, Camila avisa que os
secundaristas já propuseram uma solução. “Pedimos que o governo de São
Paulo nos forneça um vale-refeição até que as obras para fazer novas
cozinhas estejam prontas.”

Perdido e autoritário

Na outra ponta do dilema envolvendo secundaristas e governo paulista,
está Geraldo Alckmin, completamente perdido e, mais uma vez, só tendo
uma resposta para qualquer problema no estado: o envio da Polícia
Militar.

Na última segunda-feira (2), a PM passou o dia inteiro dentro do
Centro Paula Souza. Em posição de ataque, a corporação intimidava os
estudantes, que não esmoreceram. Porém, uma resolução judicial
determinou reconheceu a legitimidade da ocupação e obrigou a polícia a
se retirar do local.

Na noite de terça-feira (3), os secundaristas aplicaram um novo golpe
na gestão de Alckmin. Diante da inércia dos parlamentares da Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que resistem em instaurar
uma CPI para apurar os desvios de dinheiro na compra de merenda para as
escolas estaduais, os estudantes ocuparam a casa legislativa do estado.

Durante toda a noite e madrugada, emoções distintas tomaram conta do
plenário da Alesp. Passava das 22h quando a PM tentou, à força, retirar
os estudantes do plenário. Foram contidos por parlamentares da oposição,
entre eles o deputado João Paulo Rillo (PT), que chegou a empurrar um
dos militares.

Desde o princípio da ocupação da Alesp, o presidente da Casa, o
deputado Fernando Capez (PSDB), proibiu a entrada de água e comida no
local. A ordem foi quebrada pelo padre Julio Lancellotti, que entrou no
local com água, suco e pães para alimentar os estudantes. “Esse alimento
foi feito pelos moradores de rua de São Paulo para vocês”, afirmou o
religioso.

Já na manhã desta quarta-feira (4), Capez voltou a proibir a entrada
de água e alimentos. Porém, dessa vez, o tucano foi além e vetou a
entrada da imprensa e funcionários, decretando ponto facultativo na
Casa. O presidente da Alesp deve encaminhar à Justiça um pedido de
reintegração de posse do prédio.

Investimento precário dá razão aos estudantes

Nesta quarta-feira (4), o jornal Estado de S. Paulo,
informou que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) deixou de investir, em
2015, R$ 44 milhões nas ETECs e Fatecs, em relação ao ano de 2014.

Os dados comprovam a tese defendida pelos estudantes, que criticam a
precarização das ETECs e falta de qualquer tipo de merenda em pelo menos
23 unidades.

Ao todo, o Centro Paula Souza, agora ocupado pelos estudantes, administra 219 unidades ETECs e 66 Fatecs em todo o estado.

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