Quem ganha e quem perde com o impeachment

Por mais que a gente tente entender a votação da comissão de impeachment
por partidos, não podemos nos esquecer que a organização da comissão se
deu por “blocos” e por partidos individuais. Foram três blocos. O maior,
liderado por PMDB e PP. O segundo, liderado pelo PT e o terceiro,
liderado por PSDB. Outros cinco partidos atuaram na comissão de maneira
individual. Por exemplo, dois deputados titulares não estavam na
comissão ontem e foram substituídos por suplentes que não eram de seus
partidos, mas sim de seus blocos.

De qualquer maneira, o primeiro
gráfico mostra a distribuição dos votos por blocos. Dos partidos
isolados, apenas PDT tinha 2 votos e ambos foram contra o relatório. O
bloco do PSDB votou 100% a favor do relatório. Esse é o bloco de
oposição. O bloco liderado pelo PMDB votou dividido: Embora
majoritariamente a favor do relatório, teve 7 votos contra (3 do PMDB, 2
do PP, 1 do PEN e 1 do PTN). O bloco do PT, que é o do governo, teve 4
votos (2 do Pros e 2 do PSD) a favor do relatório. Claramente o problema
da base do governo na Câmara continua. De qualquer maneira, não haveria
alteração do resultado se os integrantes do bloco do governo fossem
100% governistas. E, com isso, a abertura do processo de impeachment
seria mesmo definida em votação de maioria qualificada no plenário. E é
aí que a coisa fica interessante.

A segunda imagem mostra a
distribuição dos partidos na votação da comissão. Perceba que os únicos
partidos que se dividiram foram PSD, PP e PMDB. São os três partidos que
têm número de cadeiras na câmara capazes de alterar o resultado em
plenário em favor do PMDB ou do PT. De qualquer maneira, não se iluda: Desse ajuste de forças só será possível duas soluções mutuamente
excludentes.

Ou o impeachment perde e teremos uma reconfiguração do
atual governo que passará a ser composto majoritariamente por PT, PP,
PSD e outros (inclusive PMDB em minoria), tendo como principal opositor o
PSDB; Ou o impeachment ganha e teremos uma formação de governo
composto majoritariamente por PMDB, PP, PSD e outros (inclusive PSDB em
minoria), tendo como principal opositor o PT.

Resumindo: no primeiro cenário,
PMDB ganha pouco e, no segundo cenário, ganha muito. Em nenhum dos dois ele,
como partido, perde. PP e PSD ganham muito com qualquer resultado. PT
mantém o que tem hoje no primeiro cenário e perde muito no segundo. PSDB
mantém o que tem hoje no primeiro cenário ou ganha pouco no segundo.

Quer dizer, no frigir dos ovos, quem está arriscando tudo são Dilma,
Temer e Cunha. Em qualquer cenário eles perdem, muito ou pouco. Quem não
arrisca nada e ganha em qualquer cenário são Maluf (PP) e Kassab (PSD).
Durma com esse barulho, amigo.

Ou, enquanto estiver acordado, pense
que tudo começou porque você saiu às ruas para pedir menos corrupção. Veja
para onde os gritos das “ruas” levaram as coisas. E da próxima vez não
seja tão inocente, amiguinho.