Relato de uma visita à perícia médica

Revista Ágora – No edifício azul da perícia médica, o saguão está cheio às 10h30 de
uma manhã de forte temporal em outubro. Mesmo em meio à tempestade, este não
deixou de ser o horário de pico de procura pelos servidores de Curitiba, muitos
encaminhados para lá direto do Instituto Curitiba de Saúde (ICS).

Izabel logo busca a reportagem para reclamar da fila
de espera para o atendimento do perito. A professora, que havia sido afastada
por depressão ao longo de dois anos, sofreu fratura na raiz do dente devido à
agressão de um aluno. Sua principal reclamação é a demora no atendimento.

 

A mudança para Licença de Tratamento de Saúde (LTS)
de três dias, que agora pode ser liberada por uma chefia imediata, é
considerada uma conquista dos servidores municipais. Ainda assim, Izabel não
está contente. Problemas permanecem. “Muitas vezes não temos

mais que vir aqui, mas segue do mesmo jeito que
antes. A demora é a mesma. O professor vai perder aula, mas espera do mesmo
jeito”, protesta.

A gestão, procurada pela reportagem, defende que a
fila de espera para avaliação na perícia médica não passa de uma hora e meia de
espera, e isso porque o sistema ainda é marcado por

uma série de consultas para liberação de um ou dois
dias.

Demora e falta de prioridade
no atendimento

Servidores apontam a relação entre o pedido de atestado de um dia e o
risco de passar uma manhã inteira para apenas referendar o atestado médico. Uma
professora de ensino especial mostra o número de senha, retirado às 9:58 horas,
e o compara com o relógio do celular, que já apontava quase meio-dia. Sua
postura é de protesto em razão da forma de prioridade no atendimento. “O
atendimento é bom, só questiono a não prioridade”, afirma.

Seu protesto não foi à toa. Afinal, aquela senhora havia acabado de
passar por uma cirurgia no ombro. “Fiz uma cirurgia no meu tendão direito e
tomei remédio”, relata. Mesmo em pleno pós-operatório, encostava-se numa das
cadeiras desconfortáveis da perícia e aguardava ansiosa a autorização para a
licença de 60 dias. “Não há clareza nos procedimentos para priorização no
atendimento”, sintetiza Irene Rodrigues, coordenadora-geral do Sismuc e secretária
nacional de Saúde do Trabalhador da Confederação dos Trabalhadores do Serviço
Público Municipal (Confetam).

LTS até três dias pode ser validada pela chefia imediata, sem passar pela perícia

Foi publicada no dia 13 de agosto, no Diário Oficial, a Portaria 1590 sobre Licença para Tratamento de Saúde (LTS), que implica conquistas como a licença de três dias entregue à chefia imediata, sem passar pela perícia, no caso do primeiro afastamento no período de trinta dias. E, no caso de um segundo atestado, em menos de trinta dias, o servidor será avaliado por um médico perito.

Há ainda a luta para ampliação desse direito, no caso dos dependentes do servidor. “Para o Sismuc, a ampliação para abranger também os dependentes será uma forma de melhorar o fluxo dentro da perícia médica, reduzindo o tempo de espera”, defende Irene Rodrigues, coordenadora-geral do Sismuc.

Médicos sobrecarregados

O médico Reginaldo Kanckin Filho, quem trabalha na perícia desde 2002, afirma que os médicos da Prefeitura carregam o peso da pressão e do baixo número de profissionais. O profissional reconhece um aumento no número de doenças psiquiátricas apresentadas pelo servidor municipal. Embora, na visão dele, não há o vínculo entre estas enfermidades e o ambiente de trabalho. O sindicato não concorda com esta avaliação.