Se os protestos desse fim de semana pudessem ser
classificados em uma canção, diria que é um “Samba de uma nota só”. Por mais
que se esforcem em dar um caráter popular às reinvindicações, a verdade é que a
turma cheirosa das ruas é aquela do “Um cantinho, um violão/Esse amor, uma
canção/Prá fazer feliz/A quem se ama…” enquanto o pau torava na Ditadura ou
agora na luta pela manutenção de direitos.
Mais do que um sambinha, os protestos atuais estão mais
vulgarizados. Estão mais para um batidão a lá funk sem muita criatividade.
Repetem excessivamente: “Fora Dilma, Fora Dilma, chega de corrupção, para ra ti
bum”. Porque se fosse um rap, um rock, teria em seu repertório mais elementos,
nos arranjos se perceberia o contexto a volta além da micareta acelerada. Na
letra, se citaria a corrupção na Receita Estadual do Paraná, da agressão aos
servidores estaduais, a falta de ganho real, o aumento da cesta básica, do
ICMS, da conta de luz e água, a máfia do transporte, entre outros.
Por isso, embora a parada de sucesso cole que nem chiclete,
o trabalhador não deve entrar nesta dança. O seu gingado deve ir à direção de
suas pautas históricas, que são o combate à terceirização, a realização de
concurso e a melhoria dos serviços públicos, o fim do financiamento privado de
campanhas, que estimula a corrupção, entre outros.
A dança do trabalhador é a cantiga de roda. É o samba da
contestação. É o “Coração na boca, o Peito aberto, é ir sangrando em direção as
lutas dessa nossa vida”. Tudo de forma
alegre e colorida. Luta de luto contra a opressão das minorias, de roxo pelo
feminismo, arco-íris pelo movimento LGBT, do preto do movimento negro, do
vermelho pelos sem tetos e sem terras, entre outros. A partitura dos
trabalhadores traz todas as canções e cores esquecidas no protesto descolorido
de verde e amarelo. E essa manifestação diversificada e inclusiva será
apresentada no dia 20 pelo Brasil. É nela, com a pauta esclarecida, que o
trabalhador deve dançar. Senão, em breve, é ele quem fica de fora da dança.