“Queremos eleições com participação de mulheres, de negros e jovens”

Militante reconhecido entre o movimento sindical e popular, Gustavo Erwin Kuss, o “Red”participou
ativamente da experiência da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) no Paraná
durante quase uma década. 
Agora, os desafios da luta política se ampliam: a luta por uma reforma política com participação popular, o que se expressa na
Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político, e a construção do Fórum
29 de abril, espaço dos movimentos sociais no Paraná depois do massacre
realizado pelo governo Beto Richa.

Entrevista realizada por Paula Zarth Padilha, do site Terra Sem Males, e Pedro Carrano, do jornal do Sismuc. 

Jornal do Sismuc.
Nacionalmente, como os movimentos sociais estão vendo o atual quadro da reforma
política?

Red. A partir do Plebiscito Popular temos
um mandato para nossas organizações continuarem empunhando a bandeira da
Constituinte Exclusiva e Soberana, para fazer a mudança do sistema político.
Agora a gente se defronta com o avanço dos setores mais reacionários do
Congresso Nacional, o Congresso mais conservador desde 1964, que tentam aprovar
uma ‘contra-reforma’ que vai à contramão de tudo o que debatemos no processo
riquíssimo do Plebiscito Popular. Mas mesmo o que foi aprovado no Congresso por
conta das manobras do Eduardo Cunha ainda não está dado. Há problemas. Ele teve
dificuldades para fazer os acordos, que acabaram resultando nesses pontos
aprovados. Há chance de barrarmos isso. Nossa campanha, agora, é pelo
Plebiscito Oficial.

Você poderia elencar
quais são os itens de Reforma Política propostos pelos movimentos sociais?

Queremos eleições sem o financiamento empresarial de campanha.
Porque quem paga a banda escolhe a música. Nesse modelo de democracia, já dizia
o professor Fabio Konder Comparato, com financiamento privado, a soberania não
é do povo, que não tem controle sobre o processo democrático. Nós precisamos
fortalecer os partidos políticos, os programas e não os nomes, os indivíduos,
as personalidades. Daí o voto em lista. Queremos eleições com participação de
mulheres, de negros e jovens, que estão subrepresentados no parlamento.
Precisamos, por exemplo, de uma nova Constituição que permita a gente destravar
as reformas que não fizemos até hoje: as Reformas Agrária, Tributária, Urbana
etc. Temos uma Constituição, chamada de “cidadã”, que trouxe avanços. Mas esses
avanços da Constituição de 1988 a burguesia brasileira, com o passar do tempo,
foi limando e suprimindo.

Você coordenou por anos
a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). Pode fazer um resgate dessa
experiência?

Os movimentos sociais têm uma caminhada que remonta ao Fórum
Nacional de Luta por Trabalho, Terra, Cidadania e Soberania. Esse Fórum
articulou enfrentamentos duríssimos – no âmbito federal contra o governo FHC, e
no estado contra o governo Lerner. A campanha contra a venda da Copel, contra
as privatizações, etc. Esse fórum vai do final dos anos 1990 e se extingue em
2002. Nesta frente estava toda a esquerda praticamente. Com a eleição do Lula,
esta articulação passa a ter outra configuração, alguns setores da esquerda já
rompem de imediato com o governo. Não havia concordância com a leitura dos
grupos que formam a CMS, que era: elegemos um governo de composição de classes,
um governo que não é somente do Partido dos Trabalhadores, e era preciso
disputar os rumos dele. Então, cria-se a CMS, com entidades que tinham essa
unidade na leitura do que seria o governo Lula. Depois, o governo vai fazendo
algumas opções que praticamente desatualizam a leitura sobre a disputa,
principalmente na questão agrária, na qual a opção do agronegócio foi clara.

A partir das lutas e do
momento político polarizado, novos espaços de organização podem ser criados?

Já em 2013, começa a se configurar uma nova articulação.
Antes das jornadas de junho, os movimentos se organizam na plenária dos
movimentos sociais, com reuniões em São Paulo. O debate era: chegamos a quase
doze anos de governos encabeçados pelo PT, avançamos na melhoria das condições
de vida da população, mas não enfrentamos o que precisamos enfrentar. Como
saímos dessa sinuca e paramos de patinar? Como enfrentar os banqueiros, os
setores da burguesia brasileira no campo e na cidade? No meio do caminho, estouram as manifestações
de rua a partir de uma pauta justa do transporte coletivo, seguida de outras
reivindicações importantes, no campo da Saúde, da Educação, enfim. Alguns
setores da esquerda partidária, sobretudo no PT, não enxergam naquilo uma
oportunidade de voltar a se organizar junto com o povo, não conseguem entender
aquilo. Os movimentos sociais também não entendem muito bem. Nisso, Dilma faz a
proposta da reforma política – imediatamente sabotada, dentro do próprio
governo. Mas há uma nova articulação de movimentos e sindicatos.

E no Paraná? Pode falar
sobre a criação do Fórum 29 de abril?

Já no Paraná, criamos o Fórum de Lutas 29 de Abril, numa
plenária ocorrida depois da mobilização contra o ajuste fiscal, a terceirização
e o governo Beto Richa, responsável pelo brutal ataque contra os trabalhadores
em educação naquela data. As trabalhadoras e trabalhadores em educação
mostraram que é possível resistir – mesmo em condições bastante adversas. A
resistência e a unidade são o caminho. Precisamos entender que não há saída só
em determinada categoria ou determinado segmento. É preciso que a gente tire as
lições que precisamos tirar desse processo, reflita sobre o que aconteceu e
saia com acúmulo político e organizativo.