Paranaense da Parada da Diversidade), coordenador do Dom da Terra AfroLGBT,
cenógrafo e figurinista. Ele conversou com o Sismuc sobre o cenário político
e social que envolve a busca de direitos do movimento LGBT no Brasil e em
Curitiba.
Jornal do Sismuc: A
homossexualidade coloca em risco a família?
Márcio Marins: De
forma nenhuma. Não estou falando apenas da homossexualidade e sim da orientação
sexual e identidade de gênero, que é a construção do gênero feminino, masculino
e das pessoas transexuais. Nós, lésbicas, gays, bissexuais e travestis e
transexuais (LGBT) nascemos de uma família de pais heterossexuais. Nós
pertencemos a uma família. Não fomos filho de chocadeira. Também não ameaçamos
a família de ninguém. Só queremos construir a nossa família da nossa forma e
que ela seja respeitada.
Jornal do Sismuc: O Estatuto
da Família define a família como uma relação entre homem e mulher. Noutro busca restringir a adoção para casais
homossexuais. Como você observa isso?
MM: Nós queremos
uma reforma na constituinte. Ela é importante porque nós tentamos incluir a
orientação sexual e identidade de gênero na Constituição na década de 1980..
Ora, família não é só homem e mulher. O Estatuto se baseia, portanto, na Constituição.
Penso que as nossas constituições familiares existem e devem ser respeitadas.
Quanto à adoção, eu gosto de um exemplo. Por que eu e meu companheiro, um casal
de lésbicas, de travestis não pode adotar uma criança? Nós não vamos
influenciar o comportamento dessa criança. Tanto é que sou filho de um casal
heterossexual e isso não determinou minha orientação. A verdade é que nós estamos prontos para dar
um lar para tantas crianças que estão sem família.
Jornal do Sismuc: Os
homossexuais são relacionados à prostituição e promiscuidade. Quem constrói
essa imagem e ela é real?
MM:Começo pela
questão dos travestis e transexuais. Ambas estão muito ligadas, no imaginário,
à prostituição. De acordo com a Fundação Rosa Luxemburgo, 97% delas não
consegue concluir o ensino fundamental. Não podem fazer educação física, são proibidas
de utilizar o banheiro feminino pelas mulheres e masculino pelos homens. São
constrangidos por causa do nome, do corpo. Isso leva a maioria, como
alternativa de sobrevivência, à prostituição. A mesma sociedade que proíbe a
travesti e a transexual de frequentar a escola é aquela que depois discrimina
por causa da prostituição. Já a promiscuidade é um mito. Ela é tanto quanto na
heterossexualidade. A troca de parceiros existe na mesma proporção. A diferença
é que antigamente éramos obrigados a viver em guetos.
Jornal do Sismuc: O
movimento LGBT se vitimiza com relação à violência? A insegurança não é um
problema estrutural brasileiro?
MM:A falta de
segurança pública realmente é um problema estrutural. É necessário mais
políticas para toda a sociedade. Mas, na proporção, nós sofremos mais com a
violação de nossos direitos. São cerca de 350 homicídios anuais em virtude da
orientação sexual e identidade de gênero. Embora não seja um índice oficial,
acreditamos que seja maior. Por outro lado, desconheço qualquer pessoa que seja
morta por ser heterossexual. Portanto, não é vitimíssimo.
Jornal do Sismuc:
Qual tem sido o papel dos governantes e dos governos para regularizar a união
estável e garantir direitos como o combate à homofobia?
MM:Nós já
passamos pela parceria civil e pela união estável que são, na verdade, um
contrato de sociedade. O STF já aprovou o casamento entre pessoas do mesmo
sexo. Esse é um grande avanço. Agora, queremos uma lei que garanta o casamento,
que dê garantia de direitos, não queremos acabar com o casamento de ninguém. O
casamento regulamenta direitos previdenciários, adoção, curatela, uma lista
acima de 40 direitos que eram negados a nós.
Jornal do Sismuc: Em
Curitiba houve polêmica com relação casamento com forte oposição da bancada
evangélica na Câmara de Vereadores.
MM:A postura do
Legislativo é perigosa. Setores conservadores e bancadas religiosas e
fundamentalistas têm avançado nas casas legislativas. Eles estão fazendo com
que a religião tenha influência negativa sobre o Estado. Não podemos
desrespeitar o principio laico. Nós respeitamos todas as religiões, mas elas
devem orientar seus fiéis dentro de suas congregações e dentro do seu lar e não
em casas de leis que são para todos e todas. A Prefeitura de Curitiba apoiou o
casamento comunitário que inclui casais homossexuais. Foi uma atitude corajosa.
A cerimônia vai acontecer e estamos felizes.
Jornal do Sismuc: O
movimento LGBT tem dialogado com os jovens e como?
MM:A APPAD tem a
preocupação de fazer formação política para a juventude. A juventude tem que
ter ciência desse trabalho realizado há três décadas. Temos grupos jovens que
estão se fortalecendo como a Aliança Jovem LGBT. Ela é nossa parceira e tem
assumido protagonismo. Isso é importante. Vivemos, no passado, com muita
homofobia, transmofobia, lésbofobia, machismo, e essa juventude tem que estar
preparada, afinal, temos pela frente algumas gerações que vão enfrentar o
sistema baseado no patriarcado.
Jornal do Sismuc: Um
tema polêmico é a cura gay. A pessoa nasce, se descobre ou faz uma opção sexual?
MM:Alguns
setores tem a intenção de confundir a sociedade. Vou falar a partir de minha
experiência. Desde sempre eu fui gay. Eu não virei ou optei ser gay. Quando
trato de orientação sexual, falo de direcionamento, para onde eu aponto meu
desejo afetivo e sexual. Logo, não é uma opção, como escolher time de futebol.
Não se cura o que não é doença. O projeto é desrespeitoso, pois busca
interferir no comportamento da pessoa, inclusive criminalizando a imagem
pública de alguém. O Conselho Regional e Federal de Psicologia proíbem seus
profissionais a fazer qualquer tratamento. Eles podem até perder seu registro
profissional.