Impasses do segundo governo Dilma

A sociedade brasileira chegou a um impasse de difícil resolução.

Não será possível continuar programas sociais e aumentar os gastos
públicos com saúde, educação, habitação, saneamento, etc. se não houve uma
retomada da expansão da econômica. Todos sabem que 2015 vai precisar de um
ajuste.

Uma possibilidade é buscar a retomada do crescimento com aumento dos
juros, ajuste fiscal e corte nos gastos públicos. Esta é a receita para o
fracasso. Além de serem “medidas impopulares”, no médio prazo, vai atingir
inclusive os níveis de emprego e renda. Além disso, tais medidas não são
capazes de resolver nenhum dos problemas estruturais recorrentes, como a baixa
taxa de investimento, baixos níveis de crescimento e a monopolização da
economia. Como conseqüência, este programa enfrentará conseqüências
profundamente negativas, em especial após as Olimpíadas em 2016, durante 2017 e
nas eleições de 2018.

Nesse momento – em que o desemprego volte a subir e o apoio popular se
encontre presumivelmente abalado – uma virada econômica só poderá viabilizar-se
com o acirramento das contradições entre as necessidades das camadas mais
pobres da população brasileira e os interesses do capital, sobretudo o capital
internacional financeirizado. O governo terá de contar com sustentação popular
organizada, mas os anos de imobilismo petista certamente cobrarão sua fatura. O
sentimento de abandono e traição poderá ter efeitos corrosivos, semelhantes ao
que passou a acometer os governos militares na segunda metade dos anos 1970,
justamente após o “milagre brasileiro”. O possível resultado das próximas
eleições, com Lula ou sem Lula, será a vitória da fração financeira da grande
burguesia e os setores reacionários.

Outra possibilidade é Dilma encabeçar uma mudança na política econômica
que aponte uma participação mais forte do Estado, elevando as taxas anuais de
investimento para 25% do PIB, abaixando juros para reduzir despesas com a
dívida pública, administrar as taxas de câmbio, fazer uma reforma tributária
para taxar o capital especulativo, regulamentar os investimentos estrangeiros e
criar novas empresas estatais estratégicas. Isso é, aumentar a intervenção
estatal na economia no próximo período para que o Brasil seja
reindustrializado, cresça economicamente e eleve o padrão de vida da população
ao atender a necessidade crescente das camadas populares por moradia, saúde,
educação, cultura, saneamento básico, transportes e outros serviços públicos.

Para realizar tais medidas, em primeiro lugar as forças progressistas
precisam alertar o povo mostrando que há efetivamente um impasse real na
sociedade brasileira e que também é certo que o governo atual não está
conseguindo resolvê-lo, por isso é preciso um avanço do povo organizado. Só a
entrada do povo e das classes sociais na disputa política é capaz de reformar o
país.

Em segundo lugar, será preciso combinar de ações de política econômica e
reformas estruturais com ações de mobilização social em todos os passos das
mudanças que o novo governo quiser implementar. Só uma mobilização social mais
intensa e organizada pode impor as mudanças que coíbam a participação do poder
econômico nas eleições, modifiquem a distorcida representação no Parlamento e
aumentem a participação popular no controle social do governo, do Legislativo e
do Judiciário.

São dois caminhos diferentes que levam a lugares diferentes.

Ou capitular aos desafios históricos postos e ser tragado pela reação
conservadora.

Ou comprar briga com gente poderosa e forte demais, mas com um movimento
político popular na retaguarda, capaz de avançar firmemente rumo ao reformismo
forte.