Mobilizações pedem 10% do PIB para a saúde

Médico do “Saúde da Família” defende o acesso de jovens pobres, negros e de periferia às faculdades de medicina

Uma das principais reivindicações dos protestos que tomaram as ruas de todo o país tem sido a melhoria da saúde pública no Brasil, com a destinação de 10% dos recursos do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor. O Sistema Único de Saúde (SUS), apesar de gratuito, é apresentado pelos manifestantes com várias deficiências e estando longe de ser um sistema que consiga atender às necessidades de todo o povo brasileiro.

Parte disso se deve ao pouco financiamento do sistema pelo governo. Apenas 4% do PIB é investido na saúde pública, que atende a 68% dos brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). Isso é o que aponta o médico e diretor do Sindicato dos Servidores Públicos de Belo Horizonte (Sindibel), Bruno Abreu Gomes.

“É impossível a gente ter um sistema público, universal e de qualidade de saúde com a quantia de recursos investidos hoje no Brasil. Todas as experiência internacionais mais bem sucedidas em saúde, como Cuba, Noruega e Canadá investem pelo menos 10% do seu PIB em saúde pública.”

Os recursos insuficientes criam um dos principais problemas do SUS: a estrutura precária, como aponta Bruno Abreu.

“Em geral, é um grande gargalo o serviço de urgência e emergência. Em qualquer pronto-atendimento de um hospital de pequeno ou grande porte, encontramos macas espalhadas pelos corredores, profissionais sobrecarregados, subvalorizados, e muitas vezes ausência de equipamentos ou mesmo profissionais adequados para resolver todos os problemas.”

A baixa quantidade de leitos hospitalares é também apresentada como um problema. De acordo com o primeiro vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, a maioria dos hospitais do país possui em média 50 leitos, quando o ideal seria entre 150 e 200.

Médicos estrangeiros, uma alternativa
Outra grave situação é a falta de médicos e a sua má distribuição pelo país. De acordo com uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP, o número de médicos aumentou de 59 mil para 400 mil nos últimos 40 anos, chegando a dois profissionais para cada 1.000 habitantes.

Países como França, Portugal e Suíça têm em média 4 médicos por mil habitantes. A distribuição desses profissionais no Brasil também é desigual. Enquanto a região sudeste tem 2,7 médicos para cada mil habitantes, a região nordeste tem metade desta quantia.

Para suprir essa demanda, o governo planeja trazer médicos de diversos países, como Cuba, Portugal e Espanha, para atuar com medicina preventiva nas regiões mais carentes de médicos e de estrutura. A medida tem causado polêmica em muitos setores, inclusive no Conselho Federal de Medicina, que afirma que a vinda dos médicos seria uma falsa solução aos problemas da saúde, além de desvalorizar o profissional brasileiro.

Segundo o médico Bruno Abreu, que atua com saúde da família em Belo Horizonte (MG), a vinda de médicos estrangeiros pode trazer benefícios ao Brasil.

“Precisamos de uma solução imediata para a falta de médicos em regiões carentes, por isso a gente apoia as medidas de trazer médicos, especialmente para trabalhar com atenção primária em áreas remotas, de outros lugares do mundo, desde que eles venham com esse compromisso de atender à população carente e desassistida e desde que o governo não abra mão da tarefa de formar médicos brasileiros.”

Bruno complementa a questão apontando que é preciso abrir as portas das universidades para estudantes que atualmente não costumam cursar a faculdade de medicina.

“Precisamos ampliar vagas em escolas de medicina, facilitar o acesso de jovens pobres, negros e de periferia, que muitas vezes não têm condições de fazer uma faculdade de medicina.”