Resenha: Do Braçil ao Brasil com dois Gonzagas

Quem for (ou foi) ao cinema para assistir um filme sobre Luís Gonzaga – O rei do Baião – com exaltações sobre o pernambucano que completaria cem anos em 2012 e para se emocionar com seus grandes forrós lascou-se. De fato, o filme é narrado com as canções e as crônicas do sertão e do sertanejo que os atuais cantores de forró (e outros estilos) não conseguem atingir. Todavia, a preferência é dada a mostrar a danada relação entre pai e filho e como isso influenciou suas vidas.
 
Se de um lado se mostra o sucesso e a ausência do Gonzaga pai e a raiva e contestação do Gonzaga Filho, de outro, como característica semelhante entre ambos, estão o sofrimento e a busca pela sobrevivência. Dor da pobreza do Gonzaga pai em um ‘Braçil’ de grandes injustiças sociais que obrigava os nordestinos jovens ou a se alistarem ao “Exército em seguidas revoluções em que não se davam nenhum tiro” ou a migrarem para o sul (Rio de Janeiro) em busca de uma sorte melhor do que da Asa Branca. Ou ainda da agonia de amar mulheres que não podem ser amadas. Já no caso do Gonzaga filho, a dor é exposta como ferida no abandono de seu pai durante sua criação afetiva (o menino foi educado por terceiros ou em colégio interno, diferente da educação de seu pai feita por Januário e Santana) e, em segundo plano, sobre a mesma aflição de ver o país ser “educado à força e ordem” da repressão militar.
 
Mas o forró desse xaxado ‘Gonzaga – De pai para Filho’ não pode ser apenas dançado de olho nos conflitos dos dois. Há que se colocar a mulher no vire e mexe pra dar sabor nesse baião. E são elas, na figura de Januária, Nazinha, Helena, Odaleia, Dina e Priscila que demonstram a importância da figura feminina na formação do caráter, educação e amor desses cabras. Sem o rigor de Januária e Helena, talvez Luís Gonzaga tivesse se perdido na vida, da mesma forma que sem Nazinha e Odaleia ele talvez nunca tivesse amado. Já Gonzaga Júnor teve um pouco em Priscila e, principalmente, em Dina o apoio e o carinho de mãe e de pai.
 
Quanto ao filme em si, ele segue o padrão de biografias ficcionais do recente cinema nacional como “Dois Filhos de Francisco”, “Chico Xavier” e “Lula, filho do Brasil”. Repete o baião de dois de boa fotografia e locações, músicas de apelo popular, ritmo bucólico e umas pimentas de humor. E nesses quesitos, Gonzaga … arroja melhor.
 
FICHA TÉCNICA
Diretor: Breno Silveira
Elenco: Adelio Lima, Chambinho do Acordeon, Land Vieira, Julio Andrade, Giancarlo di Tomazzio, Alison Santos, Nanda Costa, Silvia Buarque, Luciano Quirino, Claudio Jaborandy, Cyria Coentro, Olivia Araújo, Zezé Motta, João Miguel, Cecília Dassi, Domingos Montagner
Produção: Breno Silveira, Marcia Braga, Eliana Soárez
Roteiro: Patricia Andrade
Fotografia: Adrian Teijido
Trilha Sonora: Berna Ceppas
Duração: 130 min.
Ano: 2012
País: Brasil
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Downtown Filmes, Paris Filmes, RioFilme
Estúdio: Conspiração Filmes / Globo Filmes / Teleimage
Classificação: 12 anos