Vítimas da terceirização: Deficientes sofrem com descaso no atendimento odontológico

Imagine seu filho chorando ou se debatendo por uma dor que você não sabe o motivo. Essa é a realidade para muitos pais de pessoas com deficiência que necessitam da saúde pública em Curitiba. Apesar do empenho de servidores municipais, a terceirização do serviço odontológico para pacientes “especiais” é sinônimo de descaso. A demora e a falta de tratamento adequado no Hospital Geral Mauro Senna Goulart, mais conhecido como Hospital do Trabalhador (HT), fazem parte dos relatos de familiares. 

Conceição Aparecida da Silva, mãe de Anderson, 33 anos, reclama que o filho tem passado por um verdadeiro tormento. Segundo ela, foram aproximadamente 3 meses de espera para o atendimento dentário sob anestesia geral. Depois de chegar ao consultório do HT, no dia 6 de outubro, eles foram obrigados a esperar por 6 horas, em jejum, e por mais 2 horas, tempo que durou o tratamento odontológico. “Chegamos às 7 horas da manhã e saímos 15 horas da tarde. O Anderson não conseguia nem levantar da maca, de fraqueza por não ter se alimentado”, conta ela.

A Prefeitura, por meio de relatório apresentado ao Conselho Municipal de Saúde, admite a fila de espera que gira em torno de 3 meses. Apesar de que há casos de pacientes que aguardam atendimento desde abril. No mês de outubro, por exemplo, 40 pessoas aguardavam o atendimento. 


Longa jornada
Os atendimentos realizados no HT são destinados a pessoas que necessitam de tratamento odontológico sob anestesia geral. São casos em que os pacientes não deixam que o atendimento seja realizado em consultório. Para chegar até o hospital, no entanto, ele passa por um longo processo que pode incluir o primeiro atendimento na unidade de saúde do bairro, a consulta na unidade de saúde Amigo Especial (instalada no Pequeno Cotolengo), a avaliação e exames no campus do Jardim Botânico da UFPR, exames pré-operatórios e, finalmente, o tratamento odontológico no HT. Os atendimentos são realizados em um sábado por mês em grupos de 3 ou 4 pacientes. Caso os familiares sejam persistentes, o paciente consegue este atendimento que é realizado por cirurgiões-dentistas do HT, coordenados por João Luiz Carlini. 


A imprensa do Sismuc tentou, por diversas vezes, o contato com Carlini. Recados foram deixados em seu consultório particular e no HT para que retornasse as ligações, o que não aconteceu até o momento.


O estopim 
Os problemas foram agravados quando a Prefeitura mudou o atendimento destes pacientes, antes realizado no Centro Médico Comunitário Bairro Novo. Depois de constatar que o estabelecimento não contava com Unidade de Terapia Intensiva (UTI), necessária em caso de anestesia geral, os gestores suspenderam o atendimento no local, em janeiro de 2011. O serviço só foi retomado em outubro daquele ano, e após cobrança do Ministério Público que promoveu uma audiência com a Prefeitura. Neste período, os pacientes permaneceram sem atendimento. A partir de então, o Hospital do Trabalhador passou a receber os pacientes do Sistema Único de Saúde, em contrato firmado com a Prefeitura. 
 
Errata 1: O Sismuc reconhece que houve um equívoco na publicação desta matéria. Havíamos publicado anteriormente que a Prefeitura teria se ajustado a um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), o que não ocorreu.


Errata 2: A superintendente de gestão da Secretaria Municipal de Saúde Anna Paula Penteado, citata anteriormente nesta matéria, não foi ouvida sobre o caso.
 

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