Locais de tortura podem ser identificados no Paraná

 Debate ‘A ditadura sobrevive’ reforçou a necessidade de que sociedade discuta o que houve no período militar e combata desrespeito aos direitos humanos.

A Praça Rui Barbosa é um dos pontos mais populares de Curitiba. Neste local desembarcam milhares de pessoas vindas de toda a capital. É nesta praça que ficam também a Rua da Cidadania Matriz e um comércio popular. Mas o que a maioria desconhece é que o mesmo local foi utilizado pela Ditadura Cívico Militar para prender temporariamente opositores ao regime. Essa revelação foi contada durante o debate “A Ditadura Sobrevive”, realizado no Sindicato dos Bancários e com organização do Sismuc, Sindijor e da Comissão de Direitos Humanos. No mês que vem a Assembleia Legislativa do Paraná deve criar Pontos de Memória da Ditadura em Curitiba como um dos eventos da vinda da Comissão da Verdade ao estado.
 
Além da Praça Rui Barbosa, outro ponto utilizado pela Ditadura Cívico Militar seria o Shopping Curitiba, onde havia uma unidade do Exército. Do outro lado da rua ficava a sede da cavalaria do Exército, prédio apontado como local clandestino de tortura. Há relatos de que os presos (que chegavam encapuzados) da Operação Marumbi ouviam sirenes dos bombeiros e por isso achavam que estavam próximos ao quartel da praça Osvaldo Cruz. Para a jornalista Silvia Calciolari, uma das palestrantes da noite, a identificação desses pontos é muito importante para que as práticas cometidas entre 1964 (Ato Institucional 5) e 1985 (Fim da Ditadura) não se repitam em outras formas de governo. “Eu tenho um sonho de que um dia haja um memorial que diga o que um local foi no passado, como na Argentina”, conta a jornalista que pesquisou os torturados políticos no Paraná.


O deputado estadual Tadeu Veneri acredita que o reconhecimento não ocorreu ainda porque existe uma parcela da elite que evita a abertura dos documentos. Para ele, que preside a Comissão de Direitos Humanos, tantos os torturados pela Ditadura quando a atual população carcerária sofre com a exclusão e coerção praticada pelo Estado. “A primeira forma de se reprimir a organização dos trabalhadores há 50 anos foi à forca policial. Passado tanto tempo, o perfil daqueles que sofrem com o estado policial é o mesmo. Havia um corte de classes e ainda existe”, compara Veneri. Segundo o deputado, essa forma de enxergar a população resulta em um estado em terceiro no ranking de presos com 30 mil encarcerados e 50 mil mandados de prisão.


Já o advogado Cláudio Ribeiro destacou que “A Ditadura Sobrevive” em pelo menos dois aspectos: econômico e legal. Para ele, o chamado milagre econômico foi acompanhado de endividamento do Brasil. “Nossa dívida cresceu milhares de por cento neste período e hoje sofremos com 70% do PIB comprometido para pagar juros”, explica. Quanto às leis, Ribeiro comenta que foram os atos institucionais que “permitiram que os militares estivessem acima da sociedade” e que as leis também justificam golpes atualmente na América Latina.


Ao fim do encontro, Milton Alves, do Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça, informou que no próximo dia 24 de outubro devem ser inaugurados pontos que identificam onde houve tortura em Curitiba. “O IPPUC já está preparando os monumentos e o Fórum apresentou um conjunto de locais onde possa haver o resgate da história”, informou.


Golpe em Honduras
O debate teve início com a apresentação do filme “Honduras, Semilla de Liberdade” (Honduras, Semente de Liberdade). O filme conta a reação popular ao Golpe de Estado dado contra o governo Manuel Zelaya a partir de 28 de junho de 2009. Segundo o filme, o golpe ocorreu porque “o presidente havia tomado medidas que descontentaram a oligarquia, como a estipulação de um salário mínimo nacional e que terras improdutivas fosse objeto de reforma agrária”.  O Sismuc disponibiliza a íntegra do filme em seu site. Clique aqui e veja a versão popular do golpe.