Plenária Estadual da CUT-PR

Os trabalhos deste sábado (28) da 12ª Plenária Estatutária da CUT Paraná (PlenCUT-PR) começaram com análises das conjunturas internacional, nacional, estadual e econômica. Quintino Severo, secretário-geral da CUT Nacional, fez a análise nos contextos internacional e nacional. Na conjuntura mundial, Severo destacou três fatores importantes da atualidade: o cenário europeu, a crise imobiliária e as eleições dos Estados Unidos. “O pleito para escolher o próximo presidente norte-americano, polarizadas no republicano John Mcain e no democrata Barack Obama, traz preocupações. Se o vencedor for Mcain, teremos a continuidade da política de terror do governo Bush, inclusive com a retomada dos debates em torno da ALCA. Caso Obama vença, será menos ruim para o Brasil e o mundo. No entanto, representa uma nova relação com os países da América Latina. De todo modo, a tendência é que o próximo governo dos EUA se volta para a política interna, de protecionismo”.

Na análise nacional, Quintino fez um resgate a partir da década de 70. “Foram anos de ascensão do movimento sindical e onde houve importantes conquistas para os trabalhadores brasileiros, com a retomada da democracia. Entidades com a UNE, UBES e CUT começaram a se consolidar. Muitas conquistas não foram alcançadas, mas imprimiram diversos avanços, tornando-se um período importante de luta. Na década seguinte, a quase eleição de Lula mudou os ânimos e ampliou a busca por direitos. Porém, a conjuntura internacional, com a vitória do neoliberalismo na União Soviética, trouxe um período onde o Estado se figurou como um vilão. Essa visão enfraqueceu o aparelho da União, com a onda de privatizações. O movimento sindical, por sua vez, entrou num período de descenso das lutas. No último período tivemos a recuperação das políticas de Estado, com as empresas estatais se fortalecendo e colocando um fim nas privatizações. A eleição de Lula trouxe novas condições de organização social. Voltamos a obter o crescimento econômico, com aumento do crédito, e novas políticas públicas, como o Bolsa Família e outros programas sociais; além, é claro, da política de valorização permanente do salário mínimo e os ganhos reais conquistados pela maioria das categorias de trabalhadores”.

No âmbito da CUT, Severo destacou que a Central tem procurado o governo para discutir a necessidade da retomada da produção e a geração de empregos de qualidade, com os trabalhadores consumindo o que produzem. “Só assim se conseguirá conter a inflação”, afirmou. O secretário-geral também disse que a CUT tem quatro eixos de luta para o período. São eles: 1) melhoria das condições do trabalho, como a implementação da Convenção 158 da OIT; 2) Projeto de Desenvolvimento Nacional, ao inverso do PAC, que é apenas um programa de desenvolvimento; 3) ampliação das relações internacionais, pois na nova situação das centrais sindicais, a CUT é uma das principais do mundo e tem que disputar a hegemonia; 4) fortalecer o projeto político, com a retomada das oposições, consolidação dos sindicatos e também a disputa de espaço com outras centrais.

:: Conjuntura Estadual
A análise sobre o Paraná ficou por conta do presidente da CUT-PR, o trabalhador petroleiro Roni Anderson Barbosa, que logo de início criticou a concentração de renda. “86% de tudo que é produzido no mundo é consumido por apenas 20% da população”. Em seguida, abordou o governo Lerner. “Collor e FHC afirmavam que era necessário acumular para depois distribuir. No Paraná, o governo Lerner foi no mesmo caminho. Privatizou estradas e trouxe empresas transnacionais para o Estado. Perdemos empresas importantes, como o Banestado. Seguindo a cartilha neoliberal, os conflitos no campo durante a gestão Lerner aumentaram, inclusive com o assassinato de lideranças dos movimentos sociais. A forma de resistência que os movimentos encontraram foi organizar o Fórum de Luta por Trabalho, Terra, Cidadania e Soberania. Em 2002, finalmente veio a reviravolta, com a eleição de Lula para presidente e de Requião para governador. Assim, o estado voltou a se fortalecer, com a retomada de algumas estatais, como a Ferroeste e a Sanepar. Também tivemos a implantação de programas sociais, que foi importante para estabelecer as diferenças entre os governos Lerner e Requião. Por outro lado, o governo do peemedebista se caracterizou por alguns enfrentamentos com os movimentos, como a interferência na liberdade de organização sindical na APP e a guerra deflagrada contra as 30 horas dos trabalhadores da saúde. Esses ataques, somados com o conflito permanente com a imprensa, especialmente com o Grupo RPC (Retransmissor da Globo no Paraná), e seu caráter autoritário e arrogante quase comprometeram sua reeleição. Na disputa com Osmar Dias, diferença de apenas 10 mil votos. Uma constatação é que a política paranaense continua sendo regida por caciques políticos, que se revezam no poder há mais de três décadas”.

Barbosa também expôs que o governo Requião tem problemas de relacionamento com os movimentos sociais, mas, ao mesmo tempo, está no campo progressista quando se trata de política internacional, se posicionando ao lado de líderes de esquerda como Chávez, Morales e Lugo.

:: Conjuntura Econômica
A análise sobre o campo conjuntural econômico foi abordada pelo economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) Sandro Silva. Ele também fez um resgate dos anos 80 e 90, mas com foco na economia. “Essas duas décadas foram negativas para os trabalhadores, em função da predominância do neoliberalismo. Ao contrário dos anos 80, onde ainda havia uma ascensão das lutas, nos anos 90 houve descenso. O Produto Interno Bruto de 95 a 2003 apresentou crescimento pífio da economia, com minúsculas taxas de emprego. Só a partir de 2003 começa a retomada do crescimento, ainda sob reflexos do cenário anterior. A primeira retomada positiva foi em 2004, quando foi registrada a primeira melhora efetiva da economia desde 1995. De 2004 até setembro de 2007, a taxa básica de juros (Selic) despencou de 19,5% para 13,25% ano. A tendência é fechar 2008 em 14,25%. Assim, estamos indo à contramão do que acontece nos EUA, de onde surgiu a crise econômica atual. Lá os juros caem, aqui no Brasil a opção é pelo aumento da taxa”, afirmou Silva.

O economista ainda apresentou dados sobre o volume de crédito, que desde 2004 até maio de 2008 fechou em 33%, com um aumento considerável. Sobre a inflação, Silva disse que o fenômeno vem ocorrendo desde o final do ano passado e há uma atuação muito grande do mercado sobre as commodities, caracterizando essa onda de inflação simplesmente como especulativa. “Ela é fruto da questão dos alimentos. Se fizéssemos um balanço que desconsiderasse a alimentação, teríamos uma taxa abaixo de 2% neste ano. O que acontece é um aumento pontual e não generalizado”, ponderou.

No campo da geração de emprego, Silva observou que 2004 foi o melhor ano, com queda em 2005 e pequena melhora em 2006. Já sobre a produção industrial, o economista afirmou que há crescimento constante desde 2004, acompanhado pelas vendas no comércio. “O crescimento do PIB propiciou bons acordos salariais para a maioria das categorias, conforme estudo do Dieese. Porém, a nova tendência de mercado aponta para uma queda, na seqüência, dos ganhos reais”, finalizou.

:: Trabalhos em Grupo
Durante
toda a tarde deste sábado, e possivelmente até um pedaço da noite, os cerca de duzentos delegados da 12ª PlenCUT-PR se dividem em seis grupos de trabalho para debater os textos base das direções nacional e estadual da CUT, bem como o plano de lutas para o próximo período.


 


Fonte: CUT/PR