Trabalhadores de várias entidades prestigiaram o lançamento do livro História das Lutas dos Trabalhadores no Brasil, de Vito Giannotti, que aconteceu no último dia 03 de maio, no SISMUC.
No início do evento, o coordenador do Tie-Brasil, Sérgio Luís Bertoni, falou sobre a história do Tie e criticou a falta de concepção sindical no Brasil. Bertoni afirmou que hoje em dia os sindicalistas estão mais preocupados em disputar cargos e espaços do que refletir sobre o que aconteceu no mundo do trabalho.
Em seguida, Vito citou algumas histórias retratadas no seu livro e também falou sobre suas paixões – a luta política, o socialismo, o Brasil, os trabalhadores e a comunicação como meio de disputar hegemonia.
Depois da palestra foi servido um coquetel aos convidados, além, é claro, da tradicional fila para os autógrafos.
Em entrevista, o escritor Vito Giannotti fala um pouco sobre o livro História das Lutas dos Trabalhadores no Brasil
O que o motivou a escrever este livro?
A primeira vez que comecei a escrever sobre o tema foi em 1970, época da ditadura. O livro intitulado A História dos Trabalhadores no Brasil, tinha umas 50 páginas. Escrevi com um colega que trabalhava comigo. Nós éramos metalúrgicos e precisávamos multiplicar a nossa voz. Não só falar do que já se lutou no Brasil, mas de ter alguma coisa que fosse permanente, que pudesse passar de um para a outro. Em 1981, já no final da ditadura, foi feito a primeira publicação, de 100 páginas, com uma editora pirata. O livro era muito simples, muito primitivo. Mas em 1984 consegui publicar pela Editora Vozes. Saíram duas edições de 3 mil exemplares cada. Mas pra mim ainda era muito simples. Nas muitas viagens ministrando cursos de história para os companheiros, os trabalhadores me cobravam muito um livro sobre o tema. Às vezes eu indicava uma bibliografia de uns 70 livros. Mas não adiantava porque os trabalhadores precisavam comprar no mínimo 10 livros para ter uma visão geral. E isso não funcionava. Até que um dia resolvi fazer o livro. E isso demorou uns 10 anos.
Qual o diferencial deste livro?
Eu já fiz livros sobre o 1° de Maio, Dia da Mulher, sobre a estrutura sindical, a liberdade sindical, sobre a história da CUT, mas com aspectos diferentes, períodos diferentes. E este livro consegue dar uma visão de conjunto das lutas. Não é a história do Brasil, não é a história geral dos trabalhadores, da vida dos trabalhadores, é a história das lutas dos trabalhadores. Independente se conseguiram vitórias ou não.
Mudou muito a forma de pensar e lutar?
Mudou a forma de se trabalhar, mudou a organização do trabalho, as matérias primas, os produtos, tudo isso mudou. Mas a exploração e a resposta à exploração continuam as mesmas. A greve ainda é a grande arma do trabalhador. De cem anos atrás e de hoje, não tem outra melhor. O trabalhador luta para melhorar as suas condições de trabalho, para diminuir a jornada e para ganhar mais. São reivindicações básicas. Hoje a nossa situação é trágica. Depois de cem anos de luta no Brasil e quase 200 anos de luta no resto do mundo, os trabalhadores estão perdendo conquistas alcançadas. É um momento de recuo. Ao invés do trabalhador conquistar mais, nós estamos tentando manter o que já foi conquistado, e com muita dificuldade. Este é um momento muito mais difícil que antigamente. A política retira leis, flexibiliza leis e com isso acaba derrubando tudo, ou quase tudo, o que conquistamos.
Qual a importância do seu livro para os trabalhadores?
Eu dei um curso para os estivadores de Vitória. Pessoas que trabalham muito dentro dos navios carregando peso e organizando as mercadorias. O sindicato dos estivadores vai fazer 100 anos e nunca tinham feito um curso de formação na história. O curso que eu ministrei lá é a prática deste livro. No final do curso, um estivador chamado “Bisorão” escreveu num papel uma frase que me impressionou muito. Eu disse no começo do curso, o seguinte: “Quem sabe mais, luta melhor”. E depois ele completou: “Quem luta mais, sabe mais e quem sabe mais, pode lutar melhor”. Eu fiz um quadro com essa frase. Isso é fantástico.Na concepção do “Bisorão”, a sabedoria não é só tirada dos livros, a sabedoria vem da experiência de vida, da experiência do combate. E o livro mostrou isso a ele. Não podemos deixar que os patrões, a burguesia, o sistema neoliberal retire os direitos conquistados durante cem anos. História das Luta s dos Trabalhadores no Brasil é uma síntese para os trabalhadores que precisam conhecer sua própria história para poder lutar melhor.