O acampamento tem uma população de 1,2 mil famílias, entre elas cerca de 400 crianças, é 70% estruturado com casas de madeira. Alguns permanecem em barracos de lona. Os pequenos luxos das moradias são uma lâmpada e uma tomada ligada à energia elétrica por casa, além de água encanada na pia. Também há estrutura de banheiro, ainda que as instalações sejam precárias.
Uma vez por semana, médicos cubanos do programa Mais Médicos prestam atendimento de saúde às famílias. A escola itinerante já está em funcionamento com todas as séries, inclusive ensino médio, e conta com estrutura do Estado, que garante luz, internet, material escolar e os professores contratados.
A estrutura para instalação de escola é sempre prioridade nos acampamentos. “Temos a escola como estratégia de resistência. A proposta pedagógica é diferenciada”, conta Juliana de Melo, jovem de 19 anos formada no magistério, uma das professoras que é também moradora de acampamento e que assumiu turmas sem ajuda de custo e sem o reconhecimento inicial da escola.
Luta diária
Os moradores acampados se reúnem às 7h30 para o café da manhã coletivo e juntos seguem para uma área em que crescem plantações de sementes crioulas de milho e feijão, além da produção de alimentos como mandioca, para subsistência dos moradores do local.
O movimento prioriza a produção agroecológica, a luta pela comida sem veneno, saudável como processo de formação das famílias acampadas. É tarefa semanal das famílias cortar pinus para produzir alimentos. E sem acesso à tecnologia.
“Nós não queremos um pé de pinus dentro dessa área, queremos assentamento para a reforma agrária”, disse Rudmar Moeses, um dos coordenadores do acampamento. O acampamento é organizado em 50 grupos e cada grupo tem um representante na coordenação.
O investimento midiático da Araupel para criminalizar o movimento é notoriamente forte. Passa por anúncios de página inteira publicados em jornais impressos locais, inserções na televisão, espalhando o temor do desemprego se a empresa fechar.
“Quando ocupamos o Herdeiros da Terra, a Araupel era mais forte. Agora com o Dom Tomás, a população está dividida. A proposta da reforma agrária tem visibilidade, o debate está aberto”, diz Wellington Lenon, comunicador popular de 26 anos, que mora no acampamento Herdeiros da Terra.
Estivemos com o prefeito de Quedas do Iguaçu, Edson Prado, conhecido como Jacaré. Ele contou que é acusado pela Araupel de apoiar o movimento, mas não afirma que apoia. Em contrapartida, Jacaré está articulando com o governo estadual a implantação de uma cooperativa de laticínios para beneficiar pequenos produtores de leite, nos moldes da Terra Viva, de Santa Catarina, que faz o beneficiamento de produtos do MST. A cooperativa traria ao município a arrecadação de impostos da produção leiteira do MST.
Ainda em fevereiro, o prefeito esteve em uma audiência com o Secretário da Agricultura e do Abastecimento do Estado do Paraná, Norberto Ortigara, para debater a readequação da estrada que faz ligação entre as rodovias PR 473 e BR 158 nos municípios de Quedas do Iguaçu e Rio Bonito do Iguaçu respectivamente. A obra é considerada fundamental para a viabilização do projeto de instalação do laticínio.
Realização dos sonhos
O assentamento Celso Furtado, localizado também em Quedas do Iguaçu, é responsável pela produção de três milhões de litros de leite por mês, abastecendo 17 empresas de laticínios de outras cidades. Lá vivem 1.400 famílias, em lotes de cinco alqueires.
Anelio Moraes e sua esposa, Lucimar, contam que desde 1999 viveram acampados às margens da BR 158 e foram assentados em 2005, quando começaram a produção leiteira. Atualmente, com 18 vacas, produzem até 5 mil litro de leite ao mês, que é a renda familiar.
Quedas do Iguaçu tem 34 mil habitantes, 8 mil empregos com carteira assinada, sendo 1.200 na Araupel. E cerca de 5 mil famílias acampadas aguardando a reforma agrária. A idealização do sonho da reforma agrária, de viver e produzir em seu pedaço de terra, aparece como justifica para tamanho sacrifício dos tempos de acampamento.
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