Do fundamental ao doutorado: ASE continuam estudando mesmo com desvalorização profissional

Dos 667 auxiliares de serviços escolares que atuam no município de Curitiba, estima-se que cerca da metade já avançou no seu nível de formação, tendo desde a graduação e pós-graduação, até mestrado e doutorado

 

O comprometimento dos servidores públicos que atuam como auxiliares de serviços escolares (ASE), popularmente conhecidos como inspetores, nas escolas de ensino fundamental de Curitiba, vai além do pátio da escola, está diretamente ligado à qualidade da educação pública. Isso fica claro, quando observamos a preocupação de muitos inspetores e inspetoras em continuar os estudos, se capacitando teórica e tecnicamente, para garantir a qualidade dos serviços prestados à comunidade escolar.

Dados do Portal da Transparência da Prefeitura de Curitiba mostravam que em abril de 2023, o município contava com 667 auxiliares de serviços escolares atuando no serviço público. Estes servidores, ao ingressar na função, obrigatoriamente precisam ter ensino fundamental. Mas, hoje, estima-se que cerca da metade deste total de trabalhadores e trabalhadoras já avançou no seu nível de formação, tendo desde a graduação e pós-graduação, até mesmo mestrado e doutorado.

Graduada em gestão pública, especialista em Sociologia Política, com mestrado em educação profissional e tecnológica, a servidora pública Dirceia Aparecida Silva Anjos é exemplo de profissional que nunca parou de estudar. Ela, que atua no serviço público desde agosto de 2009, é auxiliar de serviços escolares na Escola Municipal Campo Mourão, no bairro Vila Isabel.

De acordo com Dirceia, o estudo é primordial para garantir “a qualidade de vida pessoal e o prazer e significado no trabalho”. E, mesmo que não seja um(a) professor(a) em sala de aula, o auxiliar é sujeito educador, fundamental para garantir uma educação pública de qualidade. Por isso, continuar os estudos é fundamental.

“O objetivo final do servidor público lotado na escola deve ser formar novos cidadãos, aproveitando cada contato com eles [alunos]. Nessa perspectiva, ele não pode simplesmente “passar no concurso” e nunca mais pensar em aprender, as demandas mudam conforme a sociedade muda, e as crianças também mudam. Sendo assim, quanto mais entendermos nossa prática educativa, melhor ela se dará. Isso impactará no acesso da comunidade a educação pública de qualidade, laica, sem vícios e sem preconceitos de qualquer natureza”.

Dirceia reforça que, “se formos fazer uma receita culinária quanto melhores forem os ingredientes, certamente a qualidade do alimento final será também melhor. No nosso caso, quanto melhores sermos quanto auxiliares, melhores serão os educandos, pois o que é trabalhado em sala pode ser reforçado nos pátios e corredores por nós, por meio de várias atividades lúdicas, ou em adoráveis conversas com os pequenos”.

Para José Valdivino de Moraes, agente educacional do serviço público no Estado do Paraná e integrante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a formação continuada dos trabalhadores de escola é fundamental para garantir a valorização dos próprios profissionais e contribui na superação de problemas enfrentados no espaço escolar. “A formação fortalece estes profissionais e repercute no percurso da democratização das relações na escola, além disso, se soma a outros resultados na carreira, como, por exemplo, condições salariais dignas e valorização profissional”.

Para a gestão Sindicato pra Valer, do SISMUC, a categoria dos auxiliares de serviços escolares fazem parte do alicerce da escola. E, quando continuam se capacitando, demonstram seu comprometimento com a educação pública de qualidade e emancipadora. 

“Nas escolas de ensino fundamental de Curitiba os inspetores encontram diversos problemas, desde a desvalorização salarial e profissional, até a sobrecarga de trabalho, tudo isso resultado da falta de planejamento da administração municipal. Mas, mesmo com tudo isso, estes servidores e servidoras se empenham para continuar os estudos, se capacitando, teórico e tecnicamente, para garantir a qualidade dos serviços ofertados à comunidade escolar. Isso só demonstra o comprometimento da categoria e que eles precisam mais do que nunca serem valorizados”, destaca a gestão Sindicato pra Valer do SISMUC.

FUNDEB

Desde março, o SISMUC, em parceria com a UFPR por meio do Núcleo de Políticas Educacionais (NUPe), realiza o Seminário “Controle Social, estruturas e carreiras – Novo Fundeb: caminhos, dificuldades e avanços na educação pública”. O ciclo de palestras visa formar e acessibilizar à categoria, aos interessados e aos dirigentes sindicais, sobre as questões que envolvem o financiamento, gestão e aplicação dos recursos públicos destinados à área. 

A última palestra realizada no sábado (13/05) e coordenada por Dirceia e José Valdivino, trouxe o debate sobre “as carreiras dos trabalhadores e trabalhadoras da educação – os funcionários de escola” e como o Fundeb fortalece o trabalho e a formação destes profissionais.

Amanhã, sábado (27) acontecerão duas palestras do Seminário, com os temas: “as carreiras dos trabalhadores e trabalhadoras da educação – os docentes” e  “a organização dos trabalhadores da educação”, no Campus UFPR Rebouças (R. Rockefeller, 59 – sala 232B)